quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Mistério Pascal DE JESUS

Nova "Communio" é dedicada ao Mistério Pascal
“O Mistério Pascal” é o tema da mais recente edição do segundo número de 2010 da “Communio”, revista internacional católica.
Henrique Noronha Galvão, diretor desta publicação trimestral, e M. da Graça Pereira Coutinho assinam a apresentação, que reproduzimos seguidamente.
«O Mistério Pascal constitui o centro de toda a vida e missão de Jesus, para o qual todos os mistérios da sua vida convergem. É pela páscoa, pela passagem da morte à nova vida de ressuscitado, que Jesus realiza plenamente a reconciliação de todos os homens com Deus e entre si. E assim que se dá a salvação daqueles que Deus criou para O alcançarem na plenitude da felicidade para eles reservada, mas da qual a soberba os afastara desde o início da sua história. A abundância do pecado porém dá ocasião, por Jesus Cristo, à superabundância da graça (cf. Rm 5,20) a que se acede pela fé.
A este mistério, cuja importância central foi por vezes esquecida, é dedicado o presente número da Communio no contexto da série dos mistérios da vida de Jesus.
ImagemJesus prepara-se para lavar os pés aos seus discípulos. Palma Giovane
José Tolentino Mendonça apresenta-nos o episódio de Emaús como um verdadeiro laboratório da fé pascal, em que os discípulos percorrem o caminho que leva da Jerusalém pré-pascal à Jerusalém pascal. Este percurso consiste na passagem do desejo de ver ao desejo de crer em Cristo Ressuscitado, e implica o acolhimento de Jesus não já como um forasteiro mas como o anfitrião que reparte o Pão e convida a partilhar a sua vida. Para o Autor, a hermenêutica pascal supõe Emaús na medida em que implica "o regresso ao Caminho, à Palavra e à Mesa da fração do Pão": "A sequência dos gestos de Jesus à mesa atesta que Ele não só toma o pão como se dá naquele pão, num gesto que reenvia para a dádiva total, na hora máxima da cruz."
ImagemÚltima Ceia de Jesus com os discípulos. Jaume Huguet
O Sábado Santo, e nele a descida de Jesus aos "infernos", constitui um aspeto fulcral da teologia do Mistério Pascal em Hans Urs von Balthasar. Paolo Martinelli expõe os aspetos fundamentais da perspetiva balthasariana sobre este tema. Confere particular destaque ao horizonte trinitário em que acontece todo o Mistério Pascal, explicitando depois a dimensão salvífica dessa descida à região dos mortos como expressão maior da solidariedade de Cristo com todos os homens, mesmo com os que desceram ao abandono extremo, "lá onde o Pai não pode ser encontrado". A descida de Jesus aos infernos é, numa imagem tipicamente balthasariana, Deus que abraça a humanidade "a partir de baixo": "aquela obediência até à morte de cruz, na qual em Cristo Jesus se constitui a nova e eterna aliança". O que não dá um conhecimento certo acerca da salvação de todos os homens nem anula a responsabilidade de cada um, mas legitima uma esperança fundada no gesto extremo de Jesus.
ImagemTintoretto
Gérard Rémy, inspirando-se num outro teólogo já falecido, François-Xavier Durrwell, explica-nos o sentido profundo da morte de Jesus Cristo à luz da ressurreição. Ela surge, então, como a expressão última da obediência filial de Jesus em que se realiza, no âmbito da sua humanidade, a "geração na morte" do Filho de Deus, a consumação final do ser filial de Jesus pela força do Espírito: "O paradoxo do Espírito de amor é realizar a comunhão a partir da separação, aliar a proximidade e a distância. É deste modo que o Pai gera o Filho, mas na morte aceite para ser vencida pelo poder do seu amor personificado pelo Espírito."
ImagemJesus reza, em agonia, no Jardim das Oliveiras, antes do processo que o levará à morte. Duccio di Buoninsegna
E que dizer da tristeza de Jesus no Getsémani? Na exegese de St. Ambrósio de Milão (séc. IV) sobre esta passagem dos evangelhos, Giorgio Maschio sublinha a sua grande profundidade inserida na tradição eclesial anterior. Trata-se de entender Jesus como Deus que assumiu verdadeiramente a nossa humanidade, partilhando da nossa condição com todos os seus afetos para assim nos trazer a salvação. Diz St. Ambrósio: "... ele teria sido para mim de menor proveito, se não tivesse tomado sobre si os meus sentimentos. Por isso é que se entristeceu por mim, ele que não tinha nenhum motivo para se entristecer por si próprio; e, posto de lado o gozo da eterna divindade, experimenta o tédio da minha enfermidade. Ele tomou sobre si a minha tristeza para doar-me a sua alegria, e desceu com os nossos passos até à angústia da morte, para nos fazer voltar à vida com os seus passos."
ImagemEcce Homo (Eis o Homem): Jesus, depois de flagelado e coroado com uma coroa de espinhos, é apresentado ao povo. Hieronymus Bosch
No artigo “Celebração litúrgica do Mistério Pascal”, Carlos Cabecinhas descreve a evolução do conceito de mistério pascal desde os primórdios do Cristianismo até à atualidade. Realçando a sua centralidade em todo o culto cristão, sublinha em particular o Tríduo Pascal, apresentado como uma unidade, um único conjunto celebrativo, centro de todo o ano litúrgico. Mais do que isso, numa palavra de L. Bouyer: "Todo o culto cristão não é mais do que uma celebração contínua da Páscoa". E numa outra formulação, também recordada neste artigo, João Paulo II afirma que "a liturgia da Igreja... tem como função primária reconduzir-nos a percorrer incansavelmente o caminho pascal aberto por Cristo, no qual se aceita morrer para entrar na vida".
ImagemJesus carrega a cruz a caminho do Calvário, onde será crucificado. Andrea di Bartolo
No que respeita à celebração do lava-pés, quer na liturgia do Tríduo Pascal quer na tradição beneditina, Olivier Quernadel considera que ela permanece um tesouro escondido. Terá ela, de facto, ainda sentido para a mentalidade de hoje? O Autor defende a necessidade de redescobrir o seu significado profundo de cuja atualidade não duvida. O lava-pés é expressão de um serviço humilde e recíproco, única forma de viver o amor e a fraternidade segundo o ensinamento e exemplo de Jesus Cristo.
ImagemJesus cai. Raffaello Sanzio
Em “Memória passionis. Breve leitura de Johann Baptist Metz”, João Duque apresenta a leitura do Mistério Pascal proposta por Metz. Estabelecendo uma ligação profunda entre a memória do Mistério Pascal e a memória do sofrimento dos homens, em particular dos inocentes, Metz chama a atenção para o perigo da amnésia cultural a que hoje se assiste e, consequentemente, para a importância de fazer memória. Mas João Duque deixa uma interrogação: "Como pensar, neste contexto, a força presente do amor que dá a vida pelo outro, precisamente na medida em que é um amor que sofre com o sofrimento do outro inocente? Não poderá ser a força desse amor, porque força de Deus-amor, precisamente aquela que dá força à memória e à esperança e, por isso mesmo, constitui o princípio salvífico universal, sobretudo para as vítimas inocentes?"
ImagemMatthias Grünewald
Em “A Última Ceia de Leonardo”, Timothy Verdon situa esta obra do pintor renascentista no contexto em que foi concebida ao ser destinada ao refeitório de um mosteiro, o que desde logo lhe imprime uma intenção clara de apelo ao compromisso de radicalidade de vida cristã assumido pelos monges. Percorrendo diversos sentidos subjacentes a esta pintura, Verdon, no âmbito do seu objetivo de caráter teológico-espiritual, destaca especialmente a dimensão psicológica, de interioridade, patente particularmente na figura de Cristo, dimensão que confere a esta pintura uma expressividade invulgar.
ImagemSepultamento de Jesus. Fra Angelico
À maneira de Depoimentos, foi recolhida uma série de vivências do Tríduo Pascal, segundo práticas que se distribuem pelas cidades do Porto e de Lisboa, e nas regiões do Alentejo, Algarve e S. Miguel nos Açores: “O ‘Compasso’, forma popular de celebrar a Páscoa (Manuel A. Ribeiro); “O Tríduo Pascal na Paróquia de Santa Isabel, Lisboa” (Maria C. de Lobão); “As Endoenças na aldeia de Safara” (António M. Aparício); “Procissão das tochas floridas. São Brás de Alportel” (José Cunha Duarte); “Os Romeiros” (Duarte Melo Ribeiro).
ImagemRessurreição. Piero della Francesca
Servem estes textos para documentar a importância, por um lado, da iniciativa e criatividade pastoral de párocos empenhados em que as comunidades cristãs tomem consciência da centralidade do Mistério Pascal na vida da Igreja e de cada um dos fiéis e, por outro lado, de toda a riqueza de uma religiosidade popular que mantém viva a memória dessa mesma consciência através de práticas por vezes muito antigas.
ImagemS. Tomé coloca o dedo na ferida aberta de Cristo, comprovando que o Ressuscitado é o mesmo que foi crucificado. Caravaggio
Na secção Perspetivas, são apresentadas Notas sobre a II Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, redigidas por Pedro Bravo que acompanhou de perto o seu decorrer. Adotou como título, de modo sugestivo, a expressão África! Acorda, levanta-te e anda, inspirada no texto de Atos dos Apóstolos 3,6 em que Pedro fez um primeiro milagre em nome de Jesus ressuscitado. Procura, assim, traduzir a temática a que o Papa Bento XVI quis subordinar esta reunião dos principais responsáveis da Igreja do continente: A Igreja em África ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz: "Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo" (Mt 5,13.14). E sublinha um aspeto fundamental do modo como decorreu essa Assembleia: "...os bispos africanos, mesmo ao falar dos seus males, nunca perderam o sentido de humor e conseguiram ser sobretudo positivos, promovendo a esperança, reafirmando a opção pela vida, realçando as experiências de reconciliação, de promoção humana e de progresso bem sucedidas no continente, e apelando ao enorme arsenal de experiência humana, sabedoria milenar e valores culturais do continente africano, os quais, purificados, confirmados, robustecidos e radicalizados pelo Evangelho, podem ajudar os povos africanos a reencontrar a sua identidade e enveredar pelo caminho que favorece a reconciliação, a justiça e a paz."»

Henrique Noronha Galvão, M. da Graça Pereira Coutinho
In Communio, Abril/Maio/Junho 2010
19.11.10

BENTO XVI – UM DISCÍPULO DE EMAÚS

pope-benedict-xvi
No Consistório das 11h da manhã de 11 de fevereiro de 2013, os Cardeais convocados pelo Papa tinham como agenda a aprovação de três canonizações: duas latino-americanas e os Mártires de Otranto, na Itália, vítimas dos turcos. Esses mártires impressionam pela coragem e pelo número: 800 santos, praticamente todos os moradores de Otranto que preferiram a morte cruel a abandonar a fé cristã.
Canonizações aprovadas e a surpresa: Bento XVI anuncia que deixará o ministério petrino às 20h do dia 28 de fevereiro próximo.
Houve renúncias de Papas, a mais significativa sendo a de São Celestino V, papa de 29 de agosto a 13 de dezembro de 1294. Era um velho e santo monge, há mais de 60 anos vivendo nas montanhas como eremita, no silêncio e na oração. O Conclave que o elegeu durava 27 meses, pois os Cardeais não entravam num acordo. Celestino não chegou a Roma, fixando-se em Gênova.  Dentro do palácio construiu uma pequena cela de palha para prosseguir como monge. Isso não poderia continuar, pois os problemas se acumulavam e o Papa não tinha nenhum apetite de governo. Nessa hora o espertíssimo e inteligente Cardeal Caetani foi conversar com ele e convenceu-o à renúncia. Em seguida o próprio Caetani é eleito Papa, com o nome de Bonifácio VIII.
O povo estava felicíssimo com a eleição de um monge espiritual para Papa. Existiam até profecias de que, com um papa espiritual, teria início a Igreja do Espírito, uma Igreja sem instituições visíveis. Celestino V seria esse homem da Providência. Ao renunciar, e indo de volta ao mosteiro, formou-se imensa procissão para acompanhá-lo, procissão que esperava um tempo novo para o cristianismo. Bonifácio VIII, muito esperto, deu um jeito e prendeu Celestino V, que ficou muito feliz podendo viver como monge numa cela. Morreu em 19 de maio de 1296 e foi canonizado 17 anos depois, mas com o nome de São Pedro Morrone.
Bento XVI tomou a decisão de renúncia pelo mesmo motivo: o amor incondicional à Igreja de Jesus Cristo. Suas forças definham visivelmente. João Paulo II decidiu ser Papa até os últimos dias, assumindo o ministério da Cruz pela Igreja. Bento XVI escolheu o caminho da renúncia humilde, silenciosa, no pleno domínio de suas condições humanas e intelectuais. Todos os papas são sucessores de Pedro, cada um a seu modo.
O polonês João Paulo II, em 1978, iniciou o pontificado pedindo que o mundo abrisse as portas a Cristo, que não tivesse medo do Senhor. Era um novo Moisés, cheio de energia e vitalidade, assumindo o encargo de conduzir o Povo cristão ao Terceiro Milênio. O alemão Bento XVI assumiu apresentando-se como humilde servidor da vinha do Senhor. Era um ancião, um grande teólogo, um pastor como Jesus e pescador como Pedro.
O Papa não tomou a decisão da renúncia (um ato pessoal e livre, sem necessidade de aprovação) em meio a tumultos na vida eclesial, a grandes problemas, o que não seria de seu caráter e postura de homem de fé. Enfrentou a questão da pedofilia nas fileiras clericais e religiosas, aceitou logo a renúncia de bispos com problemas, tomou decisões duríssimas no tocante à vida interna da Igreja e de congregações religiosas, sem receio de expor ao mundo as feridas do corpo de Cristo, as fraquezas daqueles que deveriam ter sido fortes. Não deixa em Testamento uma Igreja vitoriosa, mas deixa o testamento da luta pela verdade do Senhor, sempre. Nada nele inspirou o sonho de uma Cristandade revivida, não o impressionavam os números de católicos, e sim, os discípulos de Cristo.
papa-bento-xvi-

Fica conosco, Senhor

Seu lema papal foi: Cooperatores veritatis – Colaboradores da Verdade. E a Verdade não é uma teoria, um código moral: é uma pessoa, Jesus Cristo, o Filho de Deus. Essa foi sua missão, e é a missão dos cristãos.
Para quem acompanhou o teólogo, mestre espiritual, sacerdote e cardeal Joseph Ratzinger, leu os textos de Bento XVI, uma imagem aparece como pano de fundo: os Discípulos de Emaús. Muitas vezes escreveu e falou sobre esse encontro entre os dois homens que retornavam a Emaús e se encontraram com o Senhor, mas sem reconhecê-lo (Lucas 24, 13-35). Jesus explicou-lhes as Escrituras e entrou na casa deles. Ao partir o Pão, eles o reconheceram. E Jesus continuou seu caminho.
Bento XVI insistiu – e insiste – na realidade de que as pessoas e comunidades cristãs nascem da audição da Palavra de Deus e da Eucaristia. Ele presidiu a dois Sínodos com esses temas fundantes da fé cristã. Numa entrevista, o então Cardeal Ratzinger afirmava que o Cristianismo não é a fé dos números, das grandes instituições e organizações, mas a fé dos discípulos, daqueles que, após um encontro pessoal com o Senhor, decidem por segui-lo e anunciá-lo.
Naquele dia, na viagem de Jerusalém a Emaús, anoitecia. Os discípulos pediram ao Senhor: “Fica conosco, Senhor, pois já é tarde e a noite vem chegando”.
Em seu último aniversário, o Papa se referiu ao fato de estar chegando ao limiar da existência. Humilde e confiantemente pede ao Senhor que fique com sua Igreja: “Fica conosco, Senhor”, pois percebe que, para ele, a noite vem chegando. Não a noite das trevas, mas a noite que revela a Luz sem ocaso.
Pe. José Artulino Besen

O COLÍRIO DA FÉ E A LUZ DO MUNDO

Vitral-Elia-Kurzum-Jordania
«Vem, Senhor Jesus» (vitral de Elia Kurzum – Jordânia)
«Realmente o Senhor faz os cegos verem. Os nossos olhos, irmãos, são agora iluminados pelo colírio da fé. Para restituir a vista ao cego de nascença, o Senhor começou por ungir-lhe os olhos com sua saliva misturada com terra. Ele misturou sua saliva com a terra: E a Palavra se fez carne e habitou entre nós».
(Jo 1,14 – Santo Agostinho, Tract. 8-9).
Essa palavra de Santo Agostinho é muito apropriada para iniciarmos o tempo do Advento, no qual esperamos a vinda do Senhor em Belém e sua vinda gloriosa no final dos tempos. É tempo para purificarmos nossa visão, limpar nossos olhos com o colírio da fé a fim de sermos capazes de discernir entre o olhar do mundo e o olhar de Deus.
O olhar segundo o mundo nos priva da liberdade e da subjetividade, pois nos quer como multidão arrastada pela moda, pelo consumismo, pelo prazer. Quanto menos vivermos a liberdade dos filhos de Deus mais seremos vítimas dos arrastões de comportamento que nos levam ao individualismo, proposto como verdadeira inteligência: “eu gosto, então é verdade”.
A vida em comunidade, que é comunhão de pessoas, permite-nos olhar a história pessoal e do mundo de forma solidária: “é bom para meus irmãos e para mim, então é caminho de verdade”. Dessa forma, eu não sou ameaça a ninguém, nem sou ameaçado por alguém, não sou “vaquinha de presépio”, mas pessoa em diálogo com pessoas.
O colírio da fé, necessário no Advento, abre nossos olhos para contemplarmos o olhar divino sobre a história: Deus, ele sim, o Criador e Pai, oferece-nos a palavra que gera comunidades: o amor que se multiplica no amor fraterno, materno, filial, esponsal, nunca um pervertido amor interesseiro cuja origem e destino são o meu egoísmo.
O mundo faz o ego agigantar-se, e se gloria disso, enquanto que o amor faz-me pequeno para que possa crescer com todos, partindo dos mais frágeis, numa felicidade que é gerada no sentir minha capacidade de ver o outro a partir de Deus, da comunhão de vida.
Os meios de comunicação são pródigos em apresentar e propagar os egos de artistas, de pretensos intelectuais, como modelos de vida e de comportamento, a oferecerem respostas para tudo em meio a um balé executado ao som de cretinices e pseudo-soluções. Quanto mais escandalosa a resposta, mais animado o bailado. Apresentam resultados de pesquisas como se fossem revelações divinas, numa moda traiçoeira que leva os ingênuos a julgarem que, se a maioria aprova, então está certo. Os dogmas da fé são apresentados como frutos do passado ingênuo e são substituídos por outros dogmas, bem mais exigentes, porque nos colocam na moda: os dogmas das estatísticas, das pesquisas.
O dado matemático suplantou o dado revelado. Deus é excluído da vida e, como não se vive sem algum deus, seu lugar foi ocupado pelo deus do palpite, do vazio interior. Não o Deus que se revela na História humana e cósmica, mas o deus dos prazeres que duram pouco mais que um dia e logo dão lugar a outros. Hoje como ontem: no lugar de Deus que o libertara da escravidão do Egito, o povo de Israel adorou um bezerro feito de ouro. E cantou e se divertiu e blasfemou, esquecendo de olhar as serpentes venenosas que se aproximavam para picá-lo (cf. Êxodo 32, 1-35; Números 21, 4-9). A beleza da serpente escondia seu veneno.

A Palavra de se fez carne

Para curar o cego de nascença, Senhor começou por ungir-lhe os olhos com sua saliva misturada com terra, explicou Agostinho. Ele misturou sua saliva com a terra: para que a cegueira fosse vencida, o Senhor uniu a divindade com a humanidade e, desse modo, o homem recupera a luz de seus olhos unindo a terra ao céu, o divino ao humano e, foi para isso que a Palavra se fez carne e habitou entre nós, para recuperar nossa imagem e semelhança, criando a comunhão Deus-Terra-Homem.
O tempo do Advento é o tempo da memória, tempo da invocação, tempo da espera do Senhor. Memória do que o Senhor realiza pela nossa salvação, invocação para que venha em nós e em toda a criação, espera feliz de sua chegada hoje e na consumação dos tempos, quando virá cheio de glória para julgar os vivos e os mortos.
Não devemos achar que o mundo está bom, que nossa vida já é boa o suficiente. Queremos muito mais, porque o Senhor oferece bens muito superiores e, acima de tudo, queremos que ele venha manifestar sua glória entre nós, conforme sua promessa.
Marana thá! Vem, Senhor! é a mais antiga oração cristã e está inserida na Liturgia eucarística logo após a consagração das espécies: o Senhor vem, e pedimos ainda mais, que venha sempre.
À pergunta “quem é o cristão?” São Basílio Magno responde para nós: “O cristão é aquele que permanece em vigília a cada dia e a cada hora, pois sabe que o Senhor vem”.
Pe. José Artulino Bese

O COLÍRIO DA FÉ E A LUZ DO MUNDO

Vitral-Elia-Kurzum-Jordania
«Vem, Senhor Jesus» (vitral de Elia Kurzum – Jordânia)
«Realmente o Senhor faz os cegos verem. Os nossos olhos, irmãos, são agora iluminados pelo colírio da fé. Para restituir a vista ao cego de nascença, o Senhor começou por ungir-lhe os olhos com sua saliva misturada com terra. Ele misturou sua saliva com a terra: E a Palavra se fez carne e habitou entre nós».
(Jo 1,14 – Santo Agostinho, Tract. 8-9).
Essa palavra de Santo Agostinho é muito apropriada para iniciarmos o tempo do Advento, no qual esperamos a vinda do Senhor em Belém e sua vinda gloriosa no final dos tempos. É tempo para purificarmos nossa visão, limpar nossos olhos com o colírio da fé a fim de sermos capazes de discernir entre o olhar do mundo e o olhar de Deus.
O olhar segundo o mundo nos priva da liberdade e da subjetividade, pois nos quer como multidão arrastada pela moda, pelo consumismo, pelo prazer. Quanto menos vivermos a liberdade dos filhos de Deus mais seremos vítimas dos arrastões de comportamento que nos levam ao individualismo, proposto como verdadeira inteligência: “eu gosto, então é verdade”.
A vida em comunidade, que é comunhão de pessoas, permite-nos olhar a história pessoal e do mundo de forma solidária: “é bom para meus irmãos e para mim, então é caminho de verdade”. Dessa forma, eu não sou ameaça a ninguém, nem sou ameaçado por alguém, não sou “vaquinha de presépio”, mas pessoa em diálogo com pessoas.
O colírio da fé, necessário no Advento, abre nossos olhos para contemplarmos o olhar divino sobre a história: Deus, ele sim, o Criador e Pai, oferece-nos a palavra que gera comunidades: o amor que se multiplica no amor fraterno, materno, filial, esponsal, nunca um pervertido amor interesseiro cuja origem e destino são o meu egoísmo.
O mundo faz o ego agigantar-se, e se gloria disso, enquanto que o amor faz-me pequeno para que possa crescer com todos, partindo dos mais frágeis, numa felicidade que é gerada no sentir minha capacidade de ver o outro a partir de Deus, da comunhão de vida.
Os meios de comunicação são pródigos em apresentar e propagar os egos de artistas, de pretensos intelectuais, como modelos de vida e de comportamento, a oferecerem respostas para tudo em meio a um balé executado ao som de cretinices e pseudo-soluções. Quanto mais escandalosa a resposta, mais animado o bailado. Apresentam resultados de pesquisas como se fossem revelações divinas, numa moda traiçoeira que leva os ingênuos a julgarem que, se a maioria aprova, então está certo. Os dogmas da fé são apresentados como frutos do passado ingênuo e são substituídos por outros dogmas, bem mais exigentes, porque nos colocam na moda: os dogmas das estatísticas, das pesquisas.
O dado matemático suplantou o dado revelado. Deus é excluído da vida e, como não se vive sem algum deus, seu lugar foi ocupado pelo deus do palpite, do vazio interior. Não o Deus que se revela na História humana e cósmica, mas o deus dos prazeres que duram pouco mais que um dia e logo dão lugar a outros. Hoje como ontem: no lugar de Deus que o libertara da escravidão do Egito, o povo de Israel adorou um bezerro feito de ouro. E cantou e se divertiu e blasfemou, esquecendo de olhar as serpentes venenosas que se aproximavam para picá-lo (cf. Êxodo 32, 1-35; Números 21, 4-9). A beleza da serpente escondia seu veneno.

A Palavra de se fez carne

Para curar o cego de nascença, Senhor começou por ungir-lhe os olhos com sua saliva misturada com terra, explicou Agostinho. Ele misturou sua saliva com a terra: para que a cegueira fosse vencida, o Senhor uniu a divindade com a humanidade e, desse modo, o homem recupera a luz de seus olhos unindo a terra ao céu, o divino ao humano e, foi para isso que a Palavra se fez carne e habitou entre nós, para recuperar nossa imagem e semelhança, criando a comunhão Deus-Terra-Homem.
O tempo do Advento é o tempo da memória, tempo da invocação, tempo da espera do Senhor. Memória do que o Senhor realiza pela nossa salvação, invocação para que venha em nós e em toda a criação, espera feliz de sua chegada hoje e na consumação dos tempos, quando virá cheio de glória para julgar os vivos e os mortos.
Não devemos achar que o mundo está bom, que nossa vida já é boa o suficiente. Queremos muito mais, porque o Senhor oferece bens muito superiores e, acima de tudo, queremos que ele venha manifestar sua glória entre nós, conforme sua promessa.
Marana thá! Vem, Senhor! é a mais antiga oração cristã e está inserida na Liturgia eucarística logo após a consagração das espécies: o Senhor vem, e pedimos ainda mais, que venha sempre.
À pergunta “quem é o cristão?” São Basílio Magno responde para nós: “O cristão é aquele que permanece em vigília a cada dia e a cada hora, pois sabe que o Senhor vem”.
Pe. José Artulino Bese

NÓS CREMOS NA VIDA ETERNA

“Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou,
assim também os que morreram em Jesus,
Deus há de levá‑los em sua companhia”
(1Tes 4,14).
Finados 2São Paulo divide os homens em duas categorias: os que vivem tristes porque não têm esperança, e os que vivem felizes, porque têm esperança (cf. 1Tes 4, 13ss).
Tem esperança o que sabe que a vida começa em Deus, ultrapassa os poucos anos passados na terra, e em Deus continuará para sempre. O pensamento da morte, então, consola e não desespera, pois sabe que tudo tem sentido, que tudo está orientado para o encontro final da criatura com o Criador. Nada do que realiza é sem importância, pois tudo está orientado para a posse de uma eternidade feliz.
A certeza da ressurreição faz com que o idoso não desanime ao ver que suas forças definham, que serão sempre menos os anos de sua vida. Faz com que o doente irrecuperável tenha um horizonte de vida, além do sofrimento e da morte certa. Faz com que não se desespere diante da morte de uma criança inocente, de um jovem no vigor da mocidade. Porque a figura deste mundo passa, mas a vida permanece para sempre.
O cristão não perde a cabeça diante dos desafios da vida, não perde a alegria de viver, mesmo carregando cruzes pesadas, porque diante de si tem um horizonte onde brilha a Luz que não tem fim. Ele não sabe quais serão seus próximos passos, mas sabe qual será o final: a festa sem fim no Reino de Deus. A sua caminhada pode ser marcada por lutas difíceis, mas tem confiança na vitória final da vida sobre a morte. Tudo passa, somente a vida permanece.
Toda essa esperança, porém, não o faz fugir dos compromissos diante do mundo e da vida. Pelo contrário: o horizonte da ressurreição leva‑o a empenhar‑se com mais vigor para que, já aqui, sinta o gosto da eternidade. Ele sabe que todos ressuscitarão: por esse motivo se esforça para que mais gente caminhe, confortada pela esperança da eternidade. Tendo a certeza da comunhão final com Deus quer, já agora, reunir os filhos de Deus numa grande família.
A ressurreição mostra com clareza a importância da vida: conhecendo o final, não se desviará do caminho que a ele conduz, não empenhará sua existência naquilo que a traça destrói e a ferrugem corrói. Evitará fazer qualquer coisa que o impeça de ver a Luz final.
O homem passará pela experiência da morte, mas não pela experiência do abandono do Deus vivo que o gerou. O Deus que o chama carinhosamente de filho, não o destruirá para sempre. Quer tê‑lo para sempre junto de si; é o Criador buscando ansiosamente o encontro final e definitivo com a criatura.
Por isso conserva viva a esperança, e é feliz. Cristo ressuscitou. Nele a garantia de nossa ressurreição.

A CRUZ – IMAGEM DA TRINDADE E DA IGREJA

cruz-ortodoxa
Através do “Vitória! Tu reinarás! Ó Cruz, tu nos salvarás!” entoamos um hino eslavo que expressa o mistério da derrota e vitória da Cruz. A primeira estrofe não deixa dúvidas sobre a vocação da Igreja: “À sombra de teus braços, a Igreja viverá. Por ti, no eterno abraço, o Pai nos acolherá!”. A Cruz é o abraço amoroso da Trindade. Sem a Cruz, e sem cristãos assumindo a cruz, não há vida na Igreja: apenas a ilusão diabólica de que estar livre da cruz é sinal de amor privilegiado de Deus.
A tentação de Cristo no deserto (cf. Lc 4, 1-13) foi a tentação da fuga da cruz e da apresentação do sucesso como caminho messiânico, tentação de tudo resolver através do milagre, do espetáculo: “Se és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: ‘Ordenou aos seus anjos a teu respeito que te guardassem. E que te sustivessem em suas mãos, para não ferires o teu pé nalguma pedra’ (Sl 90,11ss). Jesus disse: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’ (Dt 6,16)”.
Na Sexta-feira santa, sofrendo as mais atrozes dores e o abandono do Pai, o diabo volta à carga pela boca da multidão: “Que o Cristo, rei de Israel, desça agora da cruz, para que vejamos e creiamos” (Mc 15, 32). Queriam espetáculo! Jesus poderia ter descido da cruz e tudo estaria resolvido. Pelos quatro cantos do mundo se falaria do homem que prometeu morrer, sofreu dramaticamente, tudo em preparação para o grande teatro: descer da cruz poderoso e nos braços do povo sedento por milagres.

A Cruz, imagem da Trindade

Mas, o Senhor não poderia negar a própria identidade: ele é amor, e tudo o que é e faz brota do amor. A crucifixão não é a derrota, e sim, o sinal inequívoco de um amor total na doação: “Quando tiverdes levantado o Filho do homem, então conhecereis que EU SOU (=Deus) e que nada faço de mim mesmo, mas falo do modo como o Pai me ensinou” (Jo 8,29).
A doação foi e é a Escola do Pai: alguém pode imaginar que um pai, separando-se do filho para doá-lo em resgate de uma multidão ingrata, sinta prazer? A primeira Cruz foi a do Pai, quando permitiu que seu Filho se despojasse da condição divina para ser igual a nós (cf. Fil 2,6-8). Quando Jesus se retirava para orar, consolava o Pai por sua ausência, e o Pai o consolava em seu abandono filial. Deus Pai esvaziou-se da paternidade e o Filho, da filiação. A Cruz é a imagem da Trindade: nela sofreram o Pai, o Filho e o Espírito Santo, pois o amor sem medida fez as três Pessoas se esvaziarem da comunhão divina.
O amor não é uma festa inocente. Dar o passo para declarar, na verdade, “eu te amo”, supõe enfrentar o sofrimento de se auto-anular: “Presentemente, a minh’alma está perturbada. Mas que direi?… Pai, salva-me desta hora… Mas é exatamente para isso que vim a essa hora. Pai, glorifica o teu nome!” (Jo 12, 27-28). A cada momento de sua vida pública Jesus era tentado a ser infiel ao Pai caindo na ilusão do aplauso dos curados e alimentados. Ao mesmo tempo em que pedia ao Pai ser libertado daquela “hora”, sabia que aquela era a “Hora” da glorificação: o amor teria a última palavra, por toda a eternidade seria impossível amar com mais intensidade do que no Calvário, sinal da grandeza divina capaz de assumir a pequenez total.

A Cruz, imagem da Igreja

Fiódor Dostoiévski, na célebre passagem de Os Irmãos Karamázov (livro V), colocou essas palavras na boca do Grande Inquisidor de Sevilha que reprovava a Cristo a decisão de ter aceito a derrota: “Tu não desceste da cruz porque, mais uma vez, não quiseste alimentar o homem com o milagre, e desejavas ardentemente uma fé livre, e não uma fé dependente de milagres. Ardias por um amor livre, e não a bajulação servil do escravo diante do senhor”. O Inquisidor poderoso temia o Cristo frágil que derrubaria o poder dele.
Cristo quer seus discípulos nutridos de uma fé livre, que se possa expressar num amor livre. A busca do milagre impede a liberdade da fé e a liberdade do amor. A fé e o amor incluem o esvaziamento de si para poder abandonar-se no outro. Assim, o Pai esvaziou-se do Filho para abandoná-lo em nossas mãos. E nós nos abandonamos no Filho que nos entrega ao Pai.
A Cruz permite ao homem a experiência do amor na liberdade, sem a necessidade de milagres. Somente quem participa do sofrimento de Cristo pode participar de sua glória e, deste modo, ser digno da ressurreição. Quando afirmamos que a Igreja é o Corpo de Cristo a contemplamos crucificada, renovando a fidelidade ao Pai e fazendo germinar a Vida nova: a cruz é sinal de sofrimento e de sacrifício, mas também sinal da salvação e da manifestação da glória de Deus. Uma Igreja que despreza a fidelidade da Cruz, e se empolga com a facilidade da estrada do espetáculo, nega a existência de Deus, pois, negando a fecundidade do sofrimento, ridiculariza o Deus Trindade, cuja imagem é a Cruz. Ridiculariza os sofredores do pecado do mundo, pois os considera vítimas do próprio pecado, quando a verdade cristã é outra: todo inocente que morre na sua inocência, carrega os pecados do mundo, e nisso é semelhante a Cristo e unido a ele. Afirmava São Serafim de Sarov: “Onde não há aflição não existe salvação”, pois não é possível a conversão, podemos acrescentar.
Lembro aqui a palavra do papa Francisco na Missa com os Cardeais em 14 de março: “Eu queria que, depois destes dias de graça, todos nós tivéssemos a coragem, sim a coragem, de caminhar na presença do Senhor, com a Cruz do Senhor; de edificar a Igreja sobre o sangue do Senhor, que é derramado na Cruz; e de confessar como nossa única glória Cristo Crucificado. E assim a Igreja vai para diante”.
Celebrando o mistério da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, proclamemos o hino bizantino: “Senhor, tu nos deste a cruz como arma contra o demônio; ele se atemoriza e treme, não tendo coragem de contemplar esta potência que faz ressurgir os mortos e vence a morte; por isso nós veneramos a tua sepultura e a tua ressurreição”.
Pe. José Artulino Bese

O QUE É PERDOAR?

“Não tem compaixão para com o homem, seu semelhante, e ousa pedir o perdão de seus pecados?” (Eclo 28,4)
O Filho Pródigo – Arturo Martini
Perdoar é um dos mais nobres gestos de que é capaz o ser humano. E também um dos mais difíceis. Quem sabe perdoar, praticamente atingiu a perfeição, pois viver sem ódio, sem mágoa, livre de todo ressentimento é possuir a verdadeira sabedoria de viver. Acima de tudo, quem sabe perdoar compreende de modo pleno uma das maiores necessidades do ser humano: ser perdoado sempre. Se errar faz parte da fraqueza humana, ser perdoado é o único caminho para ser redimido do erro. Quem não recebe o perdão, praticamente está impossibilitado de se recuperar. Negar o perdão é condenar o que errou a permanecer no erro.
O que é perdoar? É admitir que a fraqueza humana esteja sempre presente, mesmo na pessoa que vive na mais reta intenção, e que o erro de hoje necessariamente não se repetirá amanhã. Assim, perdoar é oferecer à pessoa um crédito de confiança: “Você errou. Eu o perdôo, ofereço‑lhe uma nova oportunidade. Aquilo que você fez não existe mais. Você é uma nova criatura, com nova chance”.
Como é bom, num momento de fraqueza, receber uma nova oportunidade! Ter gente que confia em nossa recuperação! Quando um pai perdoa ao filho o erro cometido, lhe está dizendo exatamente isso: “Meu filho, você errou. Mas você pode ser diferente. Conte comigo”. Por outro lado, não o perdoando, estará dizendo: “Meu filho, você não tem jeito mesmo. Não conte mais comigo”. É o caminho mais fácil para fazer com que o filho não lute mais para superar as próprias limitações. É condená‑lo a repetir o erro.
Todos nós, praticamente, já vivemos esta gratificante experiência de termos sido perdoados em momentos de fraqueza. Foi esse perdão fraterno que nos deu ânimo para reiniciar o caminho. Por outro lado, também já passamos pela dolorosa experiência de termos errado e não recebido o perdão reanimador. Foi muito difícil, então, recolher forças para recomeçar! Pareceu até que os outros tinham prazer em que permanecêssemos nos erro, em nos ver atolando sempre mais.
Perdoar é reconhecer a quase infinita capacidade do ser humano de se regenerar. Por pior que alguém seja, a chama da bondade nele não está extinta. Basta um pequeno sopro, e a chama brilha com força. Transforma‑se em labareda. Assim como ninguém é totalmente bom, ninguém é totalmente mau.
Perdoar é participar da misericórdia divina, que faz o sol brilhar sobre justos e injustos. Quanto maior o pecado, mais intensa a presença amorosa de Deus. Saber perdoar é ser capaz de realizar o mais divino dos gestos para com o ser humano: o gesto do perdão.

JOÃO XXIII E FRANCISCO, UMA PARÁBOLA JUBILAR

JOÃO XXIII E FRANCISCO, UMA PARÁBOLA JUBILAR

Papa João XXIII e Papa Francisco
Papa João XXIII e Papa Francisco
Contemplando a linha histórica entre 1963 e 2013, podemos observar um Jubileu de 50 anos iniciado com a morte de João XXIII, completado por Francisco e, no centro do período, os pontificados de Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II e Bento XVI. É verdade que os papas se sucedem e não se substituem, o que revela a segurança da história da Igreja, mas, há uma linha de continuidade nesses homens: a santidade. João XXIII e João Paulo II serão canonizados e logo haverá a beatificação de Paulo VI, de João Paulo I e um ancião, Bento XVI, leva vida contemplativa no mosteiro Mater Ecclesiae, dentro do Vaticano. A velha e enrugada Igreja cada vez mais se torna esposa sem ruga e sem mancha, cheia da beleza própria dos santos. Nós, que estamos acostumados a contemplar os papas no Trono papal, necessitamos aprender a contempla-los de joelhos, rosário nas mãos, confiantes no Espírito que fala às Igrejas. Uma instituição cujos Cardeais eleitores escolhem homens de tal envergadura somente pode gozar de boa saúde.
Mas, que linha marca esse Jubileu e esses homens João e Francisco? Evidente que navegam na barca do Concílio e seu espírito lembra algo meio esquecido: uma Igreja pobre para os pobres, pobre nos meios. João indicou esse caminho e Francisco torna-o uma avenida.
JOÃO XXIII
Papa João XXIII visita um doente
Papa João XXIII visita um doente
Ângelo José Roncalli (1881-1963) era filho de pobres agricultores, devoto de Nossa Senhora, estudioso. Como bom seminarista, foi premiado com bolsa de estudos no Pontifício Seminário Romano em Roma, onde foi ordenado sacerdote em 1904. No primeiro dia de seminarista escreveu um Diário, iniciado com um pequeno programa de santidade que o acompanhou até os últimos dias: nele está a história de sua alma serena e humilde, nunca perturbada nem mesmo nos acontecimentos históricos que protagonizou. Após 20 anos como secretário do bispo de Bérgamo Radini-Tedeschi, tempo em que lecionou no seminário e foi capelão militar na grande guerra de 1914, em 1921 Bento XV nomeou-o presidente nacional da Obra da Propagação da Fé, quando contribuiu na redação do motu próprio de Pio XI “Romanorum pontificum”, carta magna da cooperação missionária.
Em 1925, Pio XI o nomeia Visitador apostólico na Bulgária e foi ordenado bispo escolhendo o lema “Obediência e Paz”. Era sua missão reorganizar a Igreja de rito oriental e latino naquele país e resolver conflitos de jurisdições episcopais. Um trabalho para alguns meses, se dizia, e esses alguns meses foram 10 anos. Julgou que o tinham esquecido, mas, obedientia et pax, mergulhou no trabalho: tornou-se amigo do Rei Boris III, do clero ortodoxo, do povo búlgaro, de maioria ortodoxa, do qual aprendeu a língua. Seu amor pelos pobres grangeou-lhe o afeto geral.
Dez anos depois, em 1934 foi nomeado Delegado apostólico na Turquia e na Grécia, mergulhando no mundo ortodoxo e muçulmano. Cinco anos depois explode a segunda grande Guerra, e Roncalli teve ocasião de trabalhar em favor das vítimas doentes e famintas e, ponto delicado, em favor dos Judeus que, aos milhares, fugiam dos países europeus dominados pelo nazismo alemão. Passo fundamental foi sua amizade com o embaixador alemão Franz von Papen que lhe fornecia dinheiro, roupas, alimento e remédio repassados aos pobres judeus. Segundo o embaixador, com sua dedicação, amizade, conseguiu salvar 24 mil judeus, cujo destino seriam os campos de concentração. Sua amizade com o povo turco mereceu-lhe o apelido de “Papa turco”.
Nomeado Núncio apostólico em Paris, em 1944, continuou seu trabalho pela salvação dos judeus, servindo-se dos bons préstimos do embaixador sueco. Conseguiu que o rei Boris fizesse retornar um trem carregado de judeus que eram conduzidos ao extermínio. Roncalli expediu falsos documentos de identidade, falsos certificados de batismo e de imigração para a Palestina. De Paris sua ação estendeu-se à Hungria, Bulgária e Eslováquia, dedicação tão reconhecida que lhe valeu, em 2000, ser incluído por Israel como “justo entre as nações”. Há cálculos que afirmam terem sido salvos perto de 80 mil judeus, com esses falsos certificados de batismo e de identidade expedidos por organizações católicas com o apoio do Núncio Roncalli.
Terminada a Guerra em 1945, o futuro Papa encontrou o mau humor de Paris, que se sentia humilhada por um Núncio tão simplório, baixinho e gordo, que apelidaram de “saco de macarrão”. Charles de Gaulle, libertador da França, exigiu-lhe a destituição da maioria dos bispos franceses que tinha colaborado com o regime de Vichy. Com seu talento, Ângelo Roncalli conseguiu reduzir o número de 25 para três bispos.
Em 1953, Pio XII criou-o Cardeal e o nomeou Patriarca de Veneza. Padre há quase 50 anos, finalmente estava à frente de um rebanho católico. Continuando o ministério da reconciliação, enviou mensagem aos socialistas reunidos em Congresso. Seu coração humano e cristão não perguntava a religião ou o partido: amava instintivamente e por todos era amado.
O velho Patriarca estava com 77 anos, merecendo um digno descanso e, supresa, é eleito Papa em 28 de outubro de 1958, sucedendo ao único, inimitável, inswubstituível  Pio XII. Para os analistas desse Conclave, Roncalli tinha uma única credencial para ser eleito: era velho! Não iria dar trabalho, não mexeria com o status da Igreja pacelliana. Mas, fatal engano para os romanos: ainda no conclave criou um cardeal, em 4 anos criou mais 52, em 1960 os primeiros cardeais africano, japonês e filipino, em 1962 canonizou o primeiro santo negro, Martinho de Lima.
No primeiro Natal romano visitou as crianças do Hospital Menino Jesus que o confundiram com Papai Noel, no dia 26 os prisioneiros do Regina Coeli (Já que vocês não podem me visitar, venho eu visita-los), aos quais falou do amor de Deus. Não faltaram os fioretti, como ao visitar um padre doente no hospital Espírito Santo e ao bater à porta da Superiora ela, emocionada, se apresentou como Madre Superiora do Espírito Santo e teve a resposta do Papa: “Abençoada!. Que bela carreira! Eu sou apenas o servo dos servos de Deus”.
Contam-se 152 saídas (escapadas) do Papa fora dos muros vaticanos, incluindo a viagem de trem até Loreto e Assis. Necessitava do contato com o povo, amava Roma com suas fontes e praças que gostava de apreciar com um binóculo.
Inesperadamente, João XXIII era um papa radical, isto é, amava como Cristo amou, sem mediações religiosas ou políticas. Tinha aprendido a amar os muçulmanos, os judeus, era amigo de protestantes, ortodoxos, recebeu visita do Arcebispo de Cantuária, de um ateu comunista, o sobrinho de Kruschev, para escândalo dos puros que sentiram a profanação do sagrado espaço vaticano. A pedido de judeus, na Sexta-feira santa de  1959, suprimiu da liturgia a invocação “pro perfidis judaeis”. Não havia, nele, projetos de ecumenismo, diálogo interreligioso e sim, a acolhida sem reservas.
Com apenas três meses de pontificado, a coroa de seu ministério manifestou-se em 25 de janeiro de 1959: convocou os 17 cardeais presentes ao Oitavário em São Paulo fora dos Muros para um Consistório na sacristia, em seguida. Foi uma surpresa para a Igreja e para o mundo, mas não um improviso. Trocara idéias com seu Secretário de Estado Domenico Tardini que achou um despropósito o projeto afirmando que o Direito Canônico previa que cada diocese deveria realizar um Sínodo a cada 10 anos e Roma nunca tinha feito o seu. “Faremos um Sínodo, então”, foi a resposta do Papa.
E assim, naquele dia 25 de janeiro de 1959, no Concistório realizado na Sala capitular da Abadia de São Paulo anunciou aos 17 Cardeais que os convocara para anunciar três medidas: convocar um Sínodo Romano, um Concílio Ecumênico e a atualização do Código do Direito Canônico.
Como João XXIII era um velhote, os Cardeais pensaram que tudo seria num prazo de 10 anos e tudo ficaria nisso. Engano: era para já. O Sínodo Romano aconteceu de 24 a 30 de janeiro de 1960. Viveu a “solidão institucional”, nas palavras do Cardeal Lercaro. A Cúria fez o possível para não colaborar. Sofreu o boicote do l’Osservatore Romano que do Concílio deu notícia num pequeno requadro e, não fossem os jornais do mundo a difundirem o projeto, parecia ficar por isso. João XXIII sofreu o mesmo boicote de seu famoso “Discurso da Lua”, belíssimo improviso na noite de abertura do Concílio, que foi publicado com censura. Somente nesse ano de 2013, Francisco ordenou que fosse publicado na íntegra!
O Papa criou e nomeou as Comissões, deu impulso aos trabalhos, consultou todos os bispos e, no dia 25 de dezembro de 1961, através da bula papal “Humanae salutis” convocou o Concílio Ecumênico do Vaticano II, inaugurado em 11 de outubro de 1962.
Papa Roncalli continuou no ministério da reconciliação humana e da paz, tendo atuação fundamental na crise dos mísseis de Cuba que, em outubro de 1962 quase precipitou o mundo num holocausto nuclear. Fruto dessa horrenda perspectiva, em abril de 1963 publica a Encíclica “Pacem in Terris”, primeiro documento papal dirigido a todos os homens de boa vontade.
Em setembro de 1962 surgiram os sinais de câncer, doença que o fez sofrer muito e o levou ao túmulo. Foi padecendo fisicamente que abriu o Concílio Ecumênico do Vaticano II em 11 de outubro de 1962. O mundo tinha a sensação real de um pai comum, conhecido e amado como o Papa Bom. E muito chorou a humanidade no dia 3 de junho de 1963, quando o perdeu. Suas últimas palavras foram ao fiel secretário Loris Capovilla: “Por que chorar? Esse é um momento de alegria, um momento de glória”.
A Igreja católica não era mais a mesma instituição bimilenar, monolítica, voltada para suas seguranças internas. Era Mater et Magistra em projeto irrefreável de ser serva do mundo.
FRANCISCO
Francisco em Assis
Francisco em Assis
Cinqüenta anos depois, no dia 13 de março de 2013, foi eleito papa o Cardeal argentino Jorge Bergoglio. O primeiro jesuíta e o primeiro latinoamericano. Da mesma idade que João XXIII, porém, eleito pelo consenso no Conclave a fim de que realizasse reformas estruturais na Cúria e na Igreja. Escolheu o nome Francisco referindo-se ao Pobre de Assis. Em sua apresentação no Balcão da Basílica de São Pedro conquistou Roma e o mundo. Apresentou-se como Bispo de Roma. Não viera da intelectualidade ou da diplomacia, e sim, das favelas de Buenos Aires, do mundo dos pobres.
Cercou-se de Oito Sábios, Cardeais representando os Continentes, para assessora-lo. Francisco é amoroso, abraça cada pessoa como se estivesse sozinho com ela, visitou a prisão de Roma, as crianças do Hospital Menino Jesus, visitou Assis, onde pediu a graça da humildade para ele e para a Igreja. Celebrou o Lava-pés com meninos de rua, o aniversário com mendigos, passou a residir na Casa Santa Marta.
Em 8 de julho viajou a Lampedusa, porta de entrada e cemitério, na Itália, dos milhares de migrantes fugidos da África e Oriente Médio o que, para muitos, foi a inauguração de seu Pontificado. Sua homilia foi um grito com duas perguntas: “Adão, onde estás? Caim, onde está teu irmão?”. Pediu a graça de chorar pela nossa indiferença, pela crueldade que há no mundo, pelas decisões socioeconômiccas que provocam deslocamentos de povos, sofrimento, morte, e pergunta: “Quem chorou? Quem chorou hoje no mundo?”. E conclui: “Senhor, nesta Liturgia, que é uma liturgia de penitência, pedimos perdão pela indiferença por tantos irmãos e irmãs; pedimo-vos perdão, Pai, por quem se acomodou,  e se fechou no seu próprio bem-estar que leva à anestesia do coração; pedimo-vos perdão por aqueles que, com as suas decisões a nível mundial, criaram situações que conduzem a estes dramas. Perdão, Senhor! Senhor, fazei que hoje ouçamos também as tuas perguntas: “Adão, onde estás? Onde está o sangue do teu irmão?”.
Proclamando um jejum universal pela paz, colocou-se do lado o povo sírio ameaçado de uma invasão norte-americana. Francisco é um papa que chora cada doente, cada criança ou doente sofrendo, chora a morte de cada pessoa como de um filho. Assim como o velhinho João XXIII inaugurou um caminho sem retorno para uma Igreja Mãe, povo de Deus em diálogo com todos, Francisco percorre esse caminho de forma radical. Ele é amoroso, amigo, doce, mas, não se alimentem ilusões saudosistas, ele sabe o que quer: uma Igreja que se descobre nascendo na gruta de Belém, despojada, que possa anunciar com coerência o Evangelho do amor e da reconciliação.
João e Francisco, símbolos de uma Igreja alegre, calorosa, anunciando a alegria do amor de Deus, o Pai.
Pe. José Artulino Besen

Mídias sociais na catequese: um avanço para a evangelização!


Há não muitos anos, não se pensava que o mundo ficaria tão pequeno, ao alcance de um clique com o mouse. As notícias demoravam as vezes dias para chegar... O número de amigos que alguém poderia ter e pessoas que poderia conhecer ao longo de toda a sua vida não passava de 200, quem sabe 300 pessoas.

Hoje em dia, com o avanço da internet e das novas mídias, o cenário mudou drasticamente. As informações chegam instantaneamente, os aparelhos eletrônicos favorecem mil e uma possibilidades, com as redes sociais, podemos “ter” mais de mil “amigos”. Isso tudo tem seu valor mas certamente existem alguns riscos também. Será que deveríamos temer essas mudanças? Seria mais sensato simplesmente nos escondermos ou ignorarmos tudo isso? Não vejo que esse seja o caminho.

A pergunta que deveríamos fazer é: Como todo esse avanço, esse poder criativo tão grande pode ser usado a favor do Evangelho? Como tudo isso pode contribuir com uma área tão importante em nossa Igreja como a catequese?

O Papa Bento XVI, no ano de 2010, em sua mensagem para o dia mundial das comunicações disse algo muito importante: “Os meios modernos de comunicação fazem parte, há muito tempo, dos instrumentos ordinários através dos quais as comunidades eclesiais se exprimem, entrando em contato com o seu próprio território e estabelecendo, muito frequentemente, formas de diálogo mais abrangentes, mas a sua recente e incisiva difusão e a sua notável influência tornam cada vez mais importante e útil o seu uso no ministério sacerdotal [...] De fato, a pastoral no mundo digital há de conseguir mostrar, aos homens do nosso tempo e à humanidade desorientada de hoje, que Deus está próximo e, em Cristo, somos todos parte uns dos outros”.
A Igreja nasce do mandamento de Jesus que nos diz: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as nações...”(Mt 28,19). Nessa palavra de Jesus, vemos um desejo abrangente de salvação: ir pelo mundo todo e anunciar o evangelho a todos, fazer discípulos de Jesus. Precisamos ir onde as pessoas estão, onde os jovens estão, e ali falar de Jesus, e ali anunciá-lo e formar discípulos. Podemos dizer sem medo que o discipulado começa com a catequese, com os sacramentos da iniciação cristã.

Em Aparecida, nasceu o documento tão importante com a grande motivação para sermos Discípulos e Missionários. Ser discípulo é estar aos pés do mestre Jesus, é aprender dele, e ser missionário é levá-lo a todos.

Podemos aproveitar de todos os recursos novos que a inteligência humana tem criado para vivermos esta missão. Neste sentido, esse espaço no Blog Catequese e Bíblia será o nosso ponto de encontro para refletirmos sobre como as novas tecnologias poderão ser úteis na tão importante missão que você catequista exerce na Igreja junto a essa grande multidão de crianças, jovens e adultos que tem sede de crescer na fé e no conhecimento de Jesus Cristo.

Grande abraço a todos!

PRECE DE UM CATEQUISTA


Quero partilhar com os catequistas esta oração
que brotou do meu coração que pulsa
100% CATEQUESE.


Quero ecoar vossa Palavra Senhor
Com a coragem daqueles que amam
Com a sabedoria necessária para fazer crescer
Com a fé sincera que fecunda a vida;

Sou tua testemunha Senhor
Em um mundo que parece te esquecer
Preciso fazer de minha vida um serviço
Que cative e entusiasme os outros a segui-lo.

Sou teu Profeta Senhor
Em uma realidade que não quer te escutar
Tenho que gritar, proclamar tua vontade
Que é Caminho, Verdade, Vida, Amor e Fé.

Sou teu amigo Senhor
Que procura na singeleza do que sou
Trazer outros amigos para junto de Ti
E juntos possamos viver na plenitude
E madurecer na fé e para a vida.

Amém!

Pe. Elison Silva
Da Arquidiocese de Maceió
Articulador de Catequese da Província Eclesiástica de Maceió

Maria e o diálogo ecumênico


A sabedoria popular costuma nos alertar: com mãe não se mexe! Relação de filho e mãe é delicada e exige respeito. Isso fica bem claro na religiosidade popular, que cerca Maria de todos os títulos e venerações que um coração de filho pode inspirar. Por isso, talvez o que mais provoque desgosto, em relação aos irmãos protestantes, é o que os católicos percebem neles como desvalorização de Maria. Mas, de fato, o que esses irmãos rejeitam não é a mãe de Jesus, mulher louvada na Bíblia como “cheia de graça” , exemplo de servidora que se entrega para que nela se realize a Palavra de Deus. Eles não se afastam dela por indiferença, mas para manter uma identidade que os distingue de nós. Embora haja divergências sobre a doutrina referente a Maria, eles não têm realmente um problema com ela, o problema é conosco. 
           
Um amigo presbiteriano me contou um episódio que deixou isso bem claro. Sua comunidade estava organizando um livro de hinos religiosos para as celebrações. Foram sugeridos cantos que louvavam diversos personagens bíblicos: Moisés, Elias, Isaías... Então meu amigo, de propósito para ver a reação do grupo, sugeriu: já que vamos cantar canções sobre esses personagens bíblicos, não poderíamos incluir um canto sobre Maria? Fez-se um silêncio embaraçoso. Ao fim, meio sem jeito, um dos participantes observou: _Isso não dá! Assim a gente ia ficar igual a eles... Esse “eles”, é claro, éramos nós, os católicos, com quem eles não queriam se parecer. Comentando a fato, meu amigo observou: Maria ficou ferida no meio da briga; quando nós pararmos de brigar e ficarmos amigos, os evangélicos também vão poder expressar a admiração que ela merece.
Minha experiência mostra que ele estava com a razão. Participei da coordenação de um grupo ecumênico de estudo bíblico durante quatro anos. Os roteiros de estudo eram preparados por mim e por um pastor luterano. Depois de muito tempo de convívio, a confiança mútua e a amizade permitiam que se abordasse qualquer assunto em que havia divergência entre as Igrejas porque ninguém tinha receio de que outro estaria usando aquele tema para minar sua identidade. Foi também dentro desse espírito que um dia minhas amigas da Igreja Luterana me chamaram para fazer a pregação num culto em que o evangelho a ser meditado versava sobre a anunciação e a visitação a Isabel. Antes de começar a falar fui apresentada à comunidade com as palavras: “Esta é uma amiga católica que vai nos falar sobre a mulher mais importante que a história do mundo já produziu: Maria, a mãe de Jesus.” E tudo deu certo.  Com garantia de respeito mútuo, muitos caminhos se abrem.
Por outro lado, também temos que reconhecer que a religiosidade popular muitas vezes exagera na devoção mariana. O amor é tanto que às vezes ela é colocada numa posição que não lhe cabe, como se fosse igual à Trindade, em vez de ser o grande exemplo de servidora que deveria nos inspirar. Muita gente que acha lindo coroar a imagem de Maria esquece que o grande recado que ela deixou para nós na Bíblia é aquele das Bodas de Cana: Façam tudo que Ele vos disser. Também em relação a outros santos, o povo lembra muito mais deles como intercessores do que como exemplos de fé a serem seguidos. Há devotos de muitos santos que não sabem nada sobre a vida dessa pessoa, só se interessam pelo tipo de favor que podem conseguir através dela. Uma catequese que pusesse as devoções num caminho melhor, ajudando a ver os santos como uma inspiração para vivermos melhor a nossa fé, guardando a memória desses irmãos e irmãs como exemplos venerados com carinho, estaria também facilitando nosso diálogo com os outros cristãos. 
Therezinha Cruz

Dialógo inter-religioso: um campo diferente


            No ecumenismo estamos em busca da unidade na diversidade. Estamos unidos por princípios básicos do cristianismo e, principalmente, pela própria adesão a Jesus, que todos os cristãos reconhecem como Mestre, Filho de Deus, Salvador, parte da Trindade Santa, Caminho, Verdade e Vida. Queremos apresentar ao mundo um cristianismo mais atraente, não dilacerado por disputas internas. Queremos atender à prece de Jesus, que pediu que os seus fossem UM.

            Mas não convivemos só com cristãos, mesmo considerando a variedade de Igrejas e comunidades eclesiais à nossa volta. No Brasil encontramos membros de muitas religiões. Afinal, somos um povo formado do encontro entre europeus, indígenas e africanos. Migrantes trouxeram outras correntes religiosas. Nem ao menos temos que pensar só nas pessoas que nos estão próximas. O mundo globalizado nos mostra tradições religiosas diversas: vemos os muçulmanos na TV, sabemos de questões religiosas da Índia, da África, da China...  E aí uma questão passa pela cabeça dos catequizandos (e também pela nossa): Como ficam essas pessoas diante de Deus? O que será delas se vivem e morrem sem nunca ter ouvido falar de Jesus? O que nossa Igreja nos diz sobre isso?

            Há quem diga que cada religião tem seu caminho de salvação, outros acham que quem não pertence ao seu grupo está automaticamente longe de Deus e condenado. Nossa Igreja ensina que o único Salvador de todos é Cristo. Foi Ele que fez a grande demonstração do amor inesgotável de Deus, nele temos Deus nos amando tanto que veio viver como humano, capaz de entregar a vida, no meio de grandes sofrimentos, para nos mostrar como somos preciosos para o Criador. Essa “boa nova” é a melhor notícia que a humanidade já recebeu, a grande fonte de esperança: apesar de nossas falhas e pecados, Deus não desiste de nós e nos ama até as últimas consequências. Essa mensagem é tão essencial que somos chamados a comunicá-la aos que ainda não conhecem Jesus ou não o compreendem devidamente. O diálogo inter-religioso não apaga a missão. Conhecer Jesus é algo tão bom que não seria justo negar esse dom a quem ainda não o encontrou.

            Mas isso não se faz desvalorizando o que outras religiões têm construído nas pessoas e na história da humanidade. Muitos não sabem, mas a própria Igreja não nos autoriza a proclamar simplesmente a condenação inescapável dos que não são cristãos.
            Seria bom, por exemplo, que os catequistas conhecessem, entre outros, o documento Diálogo e Anúncio, escrito 25 anos depois do Concílio Vaticano II. Vamos nos referir a ele muitas vezes nessas nossas conversas. Hoje, gostaria de destacar apenas duas afirmações dessa orientação que nossa Igreja nos dá:

            É através da prática daquilo que é bom nas suas próprias tradições religiosas, e seguindo os ditames da sua consciência, que os membros de outras religiões respondem afirmativamente ao convite de Deus e recebem a salvação em Jesus Cristo, mesmo se não o reconhecem como salvador. (DA 29)
            Os cristãos que não têm apreço nem respeito pelos outros crentes e pelas suas tradições religiosas estão mal preparados para lhes anunciar o evangelho. (DA 73c)

            São declarações com graves implicações e que precisam ser bem entendidas para não gerar problemas. Mas indicam um caminho, uma pedagogia, uma compreensão da universalidade do amor do Deus Criador e da salvação que Cristo veio trazer.  Uma boa catequese deve estar preparada para equilibrar diálogo e missão, como pede o nosso documento.   

Therezinha Cruz

O que não é ecumenismo


A palavra ecumenismo passou para a linguagem comum, sem muita consideração com o significado específico que a nossa Igreja dá a esse termo. Fala-se em ecumenismo de modo amplo, como algo que uniria todas as idéias, de todos os grupos, uma grande mistura, um sincretismo global. Não é a isso que nossa Igreja se refere quando propõe o ecumenismo como parte de sua doutrina.

Em primeiro lugar, teríamos que perceber que, na fala oficial da nossa Igreja, há uma diferença entre ecumenismo e diálogo inter-religioso. Ambos são campos de trabalho importantes, mas cada um tem suas características próprias. O ecumenismo se refere às relações entre cristãos de Igrejas diferentes. Não são “religiões” diferentes, a religião é a mesma, são todos cristãos. Diferentes são as Igrejas (ou as chamadas comunidades eclesiais) a que uns e outros pertencem.  Referir-se a um irmão cristão como alguém que tem outra religião já seria um embaraço no diálogo ecumênico. Mas misturar ecumenismo com diálogo inter-religioso também não é a proposta da Igreja.

Para prosseguir com segurança no caminho do ecumenismo, haveria algumas idéias a serem esclarecidas. Por exemplo, ecumenismo não é:

Mistura de tudo num novo cristianismo: isso seria acrescentar mais uma divisão, como se estivéssemos criando uma nova Igreja, com perda de identidade para todos.

Disfarce para uma Igreja dominar a outra: esse é um grande receio que alguns irmãos têm. Uma vez, depois de incentivar a prática do ecumenismo num encontro, alguém me perguntou: _ Agora, falando sério, me diga: tratando assim tão bem os crentes de outras Igrejas, sendo tão simpática com eles, quantos você já converteu para a nossa Igreja? Fiquei muito decepcionada. Isso me mostrou que a pessoa não tinha entendido nada do que eu estava tentando explicar. Qualquer intenção menos sincera nesse trabalho atrapalha a caminhada em vez de ajudar.

Algo que afasta a pessoa da sua própria Igreja: entro no diálogo como católica (e só assim estou preparada para tanto) e saio com minha identidade católica reforçada porque é em nome da minha Igreja que estou falando, é como representante dessa Igreja que me apresento ao outro. O mesmo vale para o outro lado do diálogo: cada cristão de outra Igreja deve ter uma identidade firme para me ajudar a conhecer melhor o seu modo de ser cristão.
Fazer todos concordarem em tudo: O objetivo é compreender, dialogar... e poder discordar sem transformar isso em rejeição e desvalorização do outro.

Fingir que as diferenças não existem: isso tornaria hipócrita a conversa; queremos compreender as diferenças, não ignorá-las.

Desvalorizar as normas de cada Igreja: cada um deve cumprir seus deveres com a sua comunidade; se isso não for feito, o ecumenismo ganhará opositores porque será visto como uma ameaça à identidade dos envolvidos. Por exemplo: geralmente é melhor não organizar atividades ecumênicas no domingo, que é dia de cada um celebrar na sua Igreja.

Deixar de lado o espírito crítico diante de qualquer grupo cristão: ser ecumênico não é ser ingênuo diante do que não for honesto, de que estiver em contradição com a ética e os valores evangélicos. Mas, nesse caso, sempre é bom lembrar que não podemos desvalorizar um grupo inteiro porque algumas pessoas dentro deles fazem coisas erradas. Afinal, sabemos há joio no meio do trigo, mas também pode haver trigo no meio do joio.

  Pensemos: como, na catequese, viveremos uma espiritualidade que também é ecumênica, sem cair nessas falhas?

Therezinha M L da Cruz

Amai-vos uns aos outros como eu vos amei (Jo 15:12) - Recados e Imagens para orkut, facebook, tumblr e hi5

DÍZIMO

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SANTO INÁCIO

SANTO INÁCIO
martírio célebre no século II foi o de Santo Inácio de Antioquia; no ano 107, no Coliseu de Roma, vítima da perseguição de Trajano (98-117), por ocasião dos gigantescos espetáculos dados por este imperador para comemorar suas vitórias sobre os dácios. Inácio foi condenado juntamente com Rufo e Zózimo.

Cardeal Majella

"Cristo foi batizado, não para ser santificado pelas águas, mas para santificá-las"

ORE SEM CESSAR

Ore sem cessar!!!

Viva a Nossa Senhora Aparecida.













No dia 12 de outubro, comemoram-se três datas, embora poucos lembrem-se de
todas elas: Nossa Senhora Aparecida, padroeira oficial do Brasil, o Dia das Crianças e o Descobrimento da América. Nosso feriado nacional, no entanto, deve-se somente à primeira data, e, embora a devoção à santa remonte aos idos do século XVIII, só foi decretado em 1980.
Há duas fontes sobre o achado da imagem, que se encontram no Arquivo da Cúria Metropolitana de Aparecida e no Arquivo Romano da Companhia de Jesus, em Roma.
Segundo estas fontes, em 1717 os pescadores Domingos Martins García, João Alves e Filipe Pedroso pescavam no rio Paraíba, na época chamado de rio Itaguaçu. Ou melhor, tentavam pescar, pois toda vez que jogavam a rede, ela voltava vazia, até que lhes trouxe a imagem de uma santa, sem a cabeça. Jogando a rede uma vez mais, um pouco abaixo do ponto onde haviam pescado a santa, pescaram, desta vez, a cabeça que faltava à imagem e as redes, até então vazias, passaram a voltar ao barco repletas de peixes. Esse é considerado o primeiro milagre da santa. Eles limparam a imagem apanhada no rio e notaram que se tratava da imagem de Nossa Senhora da Conceição, de cor escura.
Durante os próximos 15 anos, a imagem permaneceu com a família de Felipe
Pedroso, um dos pescadores, e passou a ser alvo das orações de toda a comunidade. A devoção cresceu à medida que a fama dos milagres realizados pela santa se espalhava. A família construiu um oratório, que, logo constatou-se, era pequeno para abrigar os fiéis que chegavam em número cada vez maior. Em meados de 1734, o vigário de Guaratinguetá mandou construir uma capela no alto do Morro dos Coqueiros para abrigar a imagem da santa e receber seus fiéis. A imagem passou a ser chamada de Aparecida e deu origem à cidade de mesmo nome.

Em 1834 iniciou-se a construção da igreja que hoje é conhecida como Basílica Velha. Em 06 de novembro de 1888, a princesa Isabel visitou pela segunda vez a basílica e deixou para a santa uma coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis, juntamente com o manto azul. Em 8 de setembro de 1904 foi realizada a solene coroação da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e, em 1930, o papa Pio XI decreta-a padroeira do Brasil, declaração esta reafirmada, em 1931, pelo presidente Getúlio Vargas.
A construção da atual Basílica iniciou-se em 1946, com projeto assinado pelo
Engenheiro Benedito Calixto de Jesus. A inauguração aconteceu em 1967, por oca
sião da comemoração do 250.º Aniversário do encontro milagroso da imagem,
ainda com o templo inacabado. O Papa Paulo VI ofertou à santa uma rosa de ouro, símbolo de amor e confiança pelas inúmeras bênçãos e graças por ela concedidas. A partir de 1950 já se pensava na construção de um novo templo mariano devido ao crescente número de romarias. O majestoso templo foi consagrado pelo Papa, após mais de vinte e cinco anos de construção, no dia 4 de julho de 1980, na primeira visita de João Paulo II ao Brasil.

A data comemorativa à Nossa Senhora Aparecida (aniversário do aparecimento
da imagem no Rio) foi fixada pela Santa Sé em 1954, como sendo 12 de outubro, embora as informações sobre tal data sejam controversas. É nesta época do ano que a Basílica registra a presença de uma multidão incontável de fiéis, embora eles marquem presença notável durante todo ano.

A imagem encontrada e até hoje reverenciada é de terracota e mede 40 cm de
altura. A cor original foi certamente afetada pelo tempo em que a imagem esteve mergulhada na água do rio, bem como pela fumaça das velas e dos candeeiros que durante tantos anos foram os símbolos da devoção dos fiéis à santa. Em 1978, após o atentado que a reduziu a quase 200 pedaços, ela foi reconstituída pela artista plástica Maria Helena Chartuni, na época, restauradora do Museu de Arte de São Paulo. Peritos afirmam que ela foi moldada com argila da região, pelo monge beneditino Frei Agostinho de Jesus, embora esta autoria seja de difícil comprovação.

Seja qual for a autoria da imagem ou a história de sua origem, a esta altura ela pouco importa, pois as graças alcançadas por seu intermédio têm trazido esperança e alento a um sem número de pessoas. Se quiser saber mais detalhes sobre a Basílica e sua programação, visite o site www.santuarionacional.com.br, no qual também é possível acender uma vela virtual. E já que a fé, assim como a internet, não conhece fronteiras, eu já acendi a minha, por um mais paz e igualdade no mundo. Acenda a sua e que
Nossa Senhora Aparecida nos ouça e ilumine o mundo, que está precisando tanto de cuidados.

Além da farta pescaria, muitos outros milagres são atribuídos à Nossa Senhora Aparecida. Veja alguns abaixo:
A libertação do escravo Zacarias
O escravo Zacarias havia fugido de uma fazenda no Paraná e acabou sendo
capturado no Vale do Paraíba. Foi caçado e capturado por um famoso capitão
do mato e, ao ser levado de volta, preso por correntes nos pulsos e nos pés,
e como passassem perto da capela da Santa, pediu permissão para rezar diante
da imagem. Rezou com tanta devoção que as correntes milagrosamente se
romperam, deixando-o livre. Diante do ocorrido, seu senhor acabou por
libertá-lo.

O cavaleiro ateu
Um cavaleiro que passava por Aparecida, vendo a fé dos romeiros, zombou
deles e tentou entrar na igreja a cavalo para destruir a imagem da santa. Na
tentativa, as patas do cavalo ficaram presas na escadaria da igreja. Até
hoje pode-se ver a marca de uma das ferraduras em uma pedra, na sala dos
milagres da Basílica Nova.

A cura da menina cega
Uma menina cega, ao aproximar-se, com a mãe, da Basílica, olhou em direção a
ela e, de repente, exclamou "Mãe, como aquela igreja é bonita." Estava
enxergando, perfeitamente curada.

NILTON

O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Romanos 6:23


TERESA DE CEPEDA Y AHUMADA

TERESA DE CEPEDA Y AHUMADA
Teresa de Cepeda y de Ahumada (nasceu em Ávila em 1515) guiada por Deus por meio de colóquios místicos e por seu colaborador e conselheiro espiritual são João da Cruz (reformador da parte masculina da ordem carmelita, empreendeu aos quarenta anos uma missão que tem algo de incrível para uma mulher de saúde delicada como a sua: do mosteiro de são José, fora dos muros de Ávila, primeiro convento do Carmelo por ela reformado, partiu, carregada pelos tesouros do seu Castelo Interior, para todas as direções da Espanha.