PEQUENO MANUAL DO CATÓLICO

 

O Santo Sacrifício da Missa

1) O que é a Missa?
A missa é o sacrifício da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo que se realiza sobre o altar.

2) Como pode ser a Missa o sacrifício de Jesus se este morreu na Cruz há dois mil anos?
Pelo rito da Santa Missa, o mesmo sacrifício realizado há dois mil anos torna-se presente novamente, de um modo novo, um modo sacramental, ritual, incruento, ou seja, sem derramamento do Sangue, mas verdadeiro e eficaz.

3) Porque dizemos que a missa é o mesmo sacrifício, presente de modo sacramental?
Por que nela aquele mesmo sacrifício de Jesus se apresenta diante de nós através de sinais sensíveis que realizam a graça sacramental. Estes sinais, no caso da missa são as espécies consagradas, o pão e o vinho que, na consagração, se transformam no Corpo e Sangue de Jesus pelas palavras que o sacerdote pronuncia.

4) A Missa é, então, um Sacramento?
Sim, a Missa é a cerimônia na qual se realiza o Sacramento da Eucaristia, que é a presença real de Jesus na hóstia consagrada.

5) Essa presença de Jesus na hóstia consagrada é um símbolo de Jesus?
Não podemos dizer que seja apenas um símbolo. Jesus está realmente presente com todo seu ser. Toda a natureza humana e toda a natureza divina estão presentes na Sagrada Hóstia. Toda a substância do pão e do vinho se transformaram milagrosamente no Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Cristo.

6) A Igreja católica dá um nome especial a esta transformação?
Sim, a Igreja definiu o termo de “transubstanciação” como sendo o único capaz de exprimir o milagre que se opera na transformação do pão e do vinho no Corpo e Sangue de Jesus.

7) Porque dizemos que a Missa é um sacrifício eficaz?
Por que pela presença real de Jesus nós recebemos não apenas a graça sacramental da Eucaristia, mas o autor mesmo da graça, Jesus Cristo, nosso Deus, a quem adoramos de joelhos. A presença real de Jesus é a maior graça que uma alma pode receber nesta vida.

8) De que modo podemos receber Jesus na Eucaristia?
Pela Santa Comunhão. Sendo um sinal sensível do sacrifício de Cristo, quando comungamos, recebemos Jesus como alimento de nossas almas. Ele vem ao nosso coração de um modo muito real e eficaz.

9) Como podemos nos preparar para receber Jesus no coração?
Antes de tudo, uma boa confissão, um arrependimento sincero dos nossos pecados. Devemos também viver sempre na presença de Deus, consagrando nosso dia a Ele, desde o levantar e agradecendo sempre as graças recebidas ao deitar. Na Santa Missa, estar atento ao que acontece no altar, de preferência seguindo o texto mesmo da missa no missal.

10) Existe algum momento da missa que seja mais importante do que outros?
O mais importante momento da missa é a Consagração. Assim que foram ditas as palavras da forma sacramental, o padre eleva a hóstia e o cálice para serem vistos pelos fiéis. Todos devem estar de joelhos, compenetrados, silenciosos e em adoração.

11) Existe algum outro momento em que devemos estar de joelhos obrigatoriamente?
Sim. Quando o sacrário está aberto, quando a comunhão é distribuída aos fiéis, quando o padre dá a bênção final.

O templo de Deus

A Igreja é a casa de Deus. Lugar de oração, lugar de silêncio. Nela, nada de profano deve entrar. Toda a vida de uma igreja gira em torno das coisas de Deus, principalmente do seu culto, do seu louvor, do seu sacrifício.

12) Qual é a parte principal de uma igreja?
É o altar. Ele é o centro e a razão de ser da igreja. Todo altar é de pedra, pois é sobre a pedra que se realiza um sacrifício. No Antigo Testamento vemos diversos exemplos de sacrifícios oferecidos sobre altares de pedra. Noé, quando sai da arca; Abraão quando vai sacrificar Isaac; Jacó quando acorda do sonho etc.
A Igreja mantém este costume. Mas o sacrifício oferecido já não é apenas figurativo do verdadeiro sacrifício, como no Antigo Testamento, mas o próprio sacrifício por excelência, o único agradável a Deus, o sacrifício de seu Filho.

13) Qual a primeira coisa que devemos fazer ao entrar numa igreja?
Molhando os dedos na água benta, fazemos o Sinal da Cruz. Caminhamos até o lugar em que vamos rezar, fazemos a genuflexão e nos ajoelhamos para rezar.

14) O que é uma genuflexão?
É um ato de adoração pelo qual dobramos nosso joelho direito até tocar o solo e voltamos à posição normal.

15) Em que momento devemos fazer a genuflexão?
Quando entramos na igreja, antes de sair da igreja e cada vez que passamos na frente do sacrário.

16) Existe algum outro tipo de genuflexão?
Sim. Devemos genuflectir com os dois joelhos sempre que o Sacrário estiver aberto, ou que um padre estiver elevando a hóstia na consagração de uma missa e que entrarmos nessa hora na igreja, ou ainda se o padre estiver distribuindo a comunhão. Também devemos fazer esta genuflexão com os dois joelhos quando o Santíssimo Sacramento estiver exposto na Custódia, para nossa adoração.

17) Como se faz esta genuflexão com os dois joelhos?
Devemos nos por de joelhos completamente, fazer uma leve inclinação com a cabeça e nos levantar-mos em seguida.

18) Além da água benta, da genuflexão e da oração, o que mais se pede quando se entra numa igreja?
Devemos estar vestidos corretamente, sem bermudas ou shorts, sem chinelos mas bem calçados, sem camisetas de alça, mas com camisas de mangas. Os homens e rapazes devem evitar as blusas com desenhos espalhafatosos, de esportes e coisas parecidas. As mulheres não podem entrar numa igreja com os ombros descobertos, sem mangas ou com mini-saias.

19) É obrigatório para as mulheres o uso do véu?
Desde São Paulo até bem pouco tempo sempre foi pedido às mulheres que cobrissem a cabeça dentro da Igreja. Esse é o costume que mantemos em nossas igrejas. Não somente porque está assim na Bíblia, mas também porque isso favorece o recolhimento e a oração.

20) Porque as mulheres devem vir à igreja de saias?
Porque as calças compridas dão a elas um ar menos feminino, diminuindo a distinção entre os sexos e favorecendo uma atitude menos recatada. Também por isso a saia deve ser abaixo do joelho. Estes são os critérios para as vestimentas em nossas capelas e isso tem mantido um ambiente muito bom, próprio para a oração.

21) Como podemos saber que a Sagrada Hóstia está presente no Sacrário?
O principal sinal da presença do Santíssimo é o véu que cobre o Sacrário. Este véu se chama “conopeu” e costuma ter a cor dos paramentos do dia. Além do conopeu, deve sempre haver uma lamparina acesa perto do Sacrário.

22) Se o Sacrário estiver vazio, devemos fazer a genuflexão?
Não. Diante do Sacrário vazio fazemos apenas uma profunda inclinação ao altar e ao Crucifixo. Neste caso a lamparina deve estar apagada e o conopeu levantado ou ausente.

A Missa vai começar

23) Em que momento devemos entrar na igreja para o início da Missa?
Devemos chegar sempre alguns minutos antes para nos recolhermos na oração, preparar o missal e, sendo necessário, nos confessarmos para poder comungar.

24) É permitido chegar atrasado na Missa?
Não é permitido chegar atrasado porque seria uma falta de respeito para com Deus, além de evidente prejuízo espiritual para as almas.

25) Existe alguma ordem formal da Igreja sobre isso?
Sim, um dos mandamentos da Igreja diz: assistir missa completa todos os domingos.

26) E se acontecer algum imprevisto no meio do caminho?
A Igreja tolera pequenos atrasos não culposos. Por isso ela considera que, chegando na missa dominical (ou festa de preceito) até o Evangelho, pode-se ainda comungar.  É preciso, no entanto, evitar sempre o atraso. O prejuízo é muito grande quando se perde as leituras e o sermão da missa.

27) Qual o melhor lugar para se assistir à missa?
Em princípio qualquer banco da igreja deveria servir para a boa assistência. Na prática, constata-se que as pessoas que ficam no fundo têm a tendência a se dispersar, se distrair, conversar, fazer sinais aos vizinhos, chamando a atenção para coisas que distraem do essencial. Evidentemente estes costumes são prejudiciais para as almas e podem chegar a ser pecado.

28) Qual o melhor modo de se assistir à Missa?
Usando o missal Latim-Português podemos acompanhar as belíssimas orações que a Igreja reza durante o Santo Sacrifício. Com o missal, também podemos acompanhar melhor os gestos e ritos que são explicados passo a passo.

29) Existe um modo de se entender melhor as diversas orações que compõem uma missa?
Uma divisão lógica dos textos pode ajudar a se localizar:
Devemos antes de tudo distinguir entre
Ordinário da Missa: são as orações fixas que se rezam em todas as missas
Próprio da Missa: são as orações daquele dia em particular.
No Próprio de toda missa existem:
- 3 antífonas : Intróito, Ofertório e Comunhão – As antífonas são pequenos textos que introduzem um salmo. Na missa, os salmos que seguem estas 3 antífonas ficam reduzidos a um versículo, como podemos ver no missal.
- 3 orações: Coleta, Secreta e Pós-comunhão – A Coleta é a oração sobre os fiéis, nossas necessidades espirituais. A Secreta é a oração sobre as secretas, termo antigo que designava o pão e vinho separados no Ofertório para serem consagrados. A pós-comunhão é a oração de ação de graças pelo alimento sacramental que acabamos de receber.
- 2 leituras, Epístola e Evangelho. Entre as duas curtas meditações que variam de acordo com a época do Ano Litúrgico: Gradual, Aleluia, Trato.

30) Existe ainda outras divisões que possam ajudar a assistir à Missa?
Sim. Considerando a missa de modo cronológico, podemos distinguir três partes.

31) Como se chama a primeira parte da missa?
Chama-se Missa dos Catecúmenos. Assim chamada porque, sendo formada pela parte penitencial e de instrução, era assistida também pelas pessoas que se preparavam para o batismo (os catecúmenos). Estes deviam deixar a igreja após o Credo. Os Santos Mistérios só podiam ser assistidos pelos batizados. Já não se tem este costume, mas o nome permanece. Também se chama a esta parte de Ante-missa.

32) Quais as orações da Missa dos Catecúmenos?
Orações ao pé do altar, com o Salmo Judica me (42) e o Confiteor.
Intróito, Coleta e a parte da Instrução: epístola, evangelho, sermão e o Credo, que é a profissão de fé católica.

33) Qual a segunda parte da Missa?
É a Missa dos Fiéis. Na antiguidade, todos os que, já sendo batizados e tendo podido confessar-se, estavam aptos para assistir o Santo Sacrifício e comungar.

34) Quais as orações ou partes da Missa dos Fiéis?
Ofertório, com o oferecimento do pão e do vinho que serão consagrados
Prefácio, longo canto que exprime o mistério da missa do dia.
Cânon, parte central da Missa. São as mais belas orações que o padre reza em silêncio e que têm seu ápice na Consagração.
Pai Nosso, rezado apenas pelo celebrante porque este ocupa o lugar de Cristo, que o rezou sozinho para ensinar aos Apóstolos
Comunhão
Orações finais

35) Qual a posição que devemos adotar ao longo da missa?
De joelhos:
- orações ao pé do altar até o final do Kyrie (nas missas de roxo ou preto até o fim da Coleta)
- do final do Sanctus até antes do Pai Nosso
- do Agnus Dei, durante toda a comunhão, até que o padre venha rezar a antífona da comunhão
- na bênção final

De pé:
- no Glória
- no Evangelho
- no Orate Fratres até o fim do Sanctus
- no Pai-Nosso até o Agnus Dei
- na antífona da comunhão até o fim do Ite Missa Est.
- no último Evangelho

Sentado:
- durante a Epístola até que o padre entoe o Evangelho
- durante o ofertório até que o padre entoe o Orate Fratres
- é permitido, mas não recomendado, sentar-se após o sacrário ser fechado, depois da comunhão (nunca se sentar durante a distribuição da comunhão ou com o sacrário aberto).

Seria uma falta não estar de joelhos: (salvo doença)
- na consagração
- a partir do Ecce Agnus Dei, quando o padre mostra a hóstia,  até que o Sacrário seja fechado
- na bênção final

36) O que se deve fazer após a comunhão?
Quando nos levantamos da mesa de comunhão, carregamos Jesus no coração. Toda nossa atenção deve estar voltada ao hóspede divino que nos vem visitar com tanto amor e misericórdia. Uma atitude compenetrada, o olhar voltado para baixo, silêncio na alma e no corpo. Chegando ao nosso lugar, ficamos de joelhos, procuramos fechar os olhos e rezar em silêncio, saboreando este encontro sublime com Nosso Salvador. Podemos também, para ajudar a concentração, rezar as orações tradicionais de “ação de graças”, como se encontram no próprio missal ou nos livros de oração.

37) Quando o padre sai da igreja, no final da missa, devemos sair também?
Quanto vale um só instante com Jesus presente em nós? Vale a pena prolongar nossas orações e nosso silêncio, principalmente se considerarmos que durante a semana, são raros os momentos de silêncio e oração. Fiquemos alguns instantes com Jesus em ação de graças, após a Santa Missa. O padre também volta à igreja para rezar sua ação de graças. Procuremos não impedi-lo, com nossas necessidades, de fazer sua ação de graças.

O uso do missal

38) Como podemos nos localizar melhor quando seguimos a missa no missal?
- O Ordinário da Missa fica no meio do missal. Ponha um marcador reservado para o Ordinário. É a parte fixa que se reza em todas as missas.
- Temporal : Toda a parte que precede o Ordinário é chamado de Temporal (missas próprias para o tempo): engloba todas as missas dos domingos ao longo do ano além de algumas outras missas que podem cair em dia de semana mas que estão inseridas nos mistérios da vida de Jesus Cristo: Natal, Epifania  e outras. Ponha um marcador reservado também para esta parte
- Santoral : Logo depois do Ordinário vem o Santoral. Missas dos Santos. Dividido em duas partes:
            - Comum dos Santos – são missas indicadas para diversos santos : comum dos confessores, ou comum dos mártires etc. No dia do santo está indicada a página quando se deve usar a missa do comum. Ponha um marcador par o Comum dos santos.
            - Próprio dos Santos – são as missas indicadas no dia mesmo do santo. Junto com a missa vem uma breve notícia histórica sobre a vida do santo. Vale a pena abrir todos os dias o missal para acompanhar os santos de cada dia. Ponha um marcador para o próprio dos santos.
- Missas votivas – São missas que rememoram algum mistério fora de época, para quando não houver nenhuma missa indicada naquele dia.
- Missa dos defuntos – todas as orações que devemos fazer nos enterros e nas doenças graves para pedir a Deus pelos nossos parentes e amigos.
- Manual de orações – muitas orações, ladainhas, consagrações, hinos, cânticos se encontram ainda no fim do missal. Não deixe de conhecer profundamente todas elas.

Outras obrigações dos fiéis

39) Além da assistência à Santa Missa, o que mais é pedido aos fiéis?
A Santa Igreja em sua sabedoria e para o bem de nossas almas, maior glória de Deus e para nossa salvação, pede ainda outras obrigações, que devemos procurar realizar com espírito de obediência e amor por Deus Nosso Senhor. São os chamados “Mandamentos da Igreja”.

40) Quais são esses Mandamentos?
São cinco:
- Assistir a missa inteira aos domingos e dias Santos de Guarda
- Confessar-se uma vez por ano pelo menos
- Comungar por ocasião da Páscoa
- Fazer jejum e abstinência nos dias prescritos
- Dar o dízimo segundo o costume

41) Porque a Igreja nos obriga a confessar e comungar na Páscoa?
Sendo a mais importante festa do Ano Litúrgico, centro dos mistérios da vida de Nosso Senhor, a Igreja considera que todos os católicos devem realizar este mínimo de amor por Jesus Sacramentado. Não significa que esta comuhão seja suficiente. O ideal seria que comungássemos todos os domingos. Mas a obrigação da comunhão pascal nos impele a fazer um bom exame de consciência. Quantas pessoas receberam a graça da conversão devido à confissão para a comunhão pascal.

42) Quais os dias Santos de Guarda?
Na Igreja Universal são dias santos de Guarda:
- Oitava de Natal (1º de janeiro)
- Epifania (6 de janeiro)
- São José (19 de março)
- Ascensão de Nosso Senhor
- Corpus Christi
- São Pedro e São Paulo (29 de junho)
- Assunção de N. Senhora (15 de agosto)
- Todos os Santos (1º de novembro)
- N. Sra da Conceição (8 de dezembro)

Em cada país a legislação muda quanto aos dias feriados. Todos os católicos devem fazer um esforço para ir à Santa Missa nos dias santos de Guarda quando não for feriado.

43) Quais os dias de jejum obrigatório?
Atualmente, apenas na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa. Mas o espírito da Quaresma nos move a jejuar com maior frequência, mesmo não sendo de obrigação. Leia mais sobre o jejum e a abstinência

44) Ainda é de rigor a abstinência de carne nas sextas-feiras?
Sim. Toda sexta-feira do ano devemos nos abster de comer carne (podemos comer peixe), em honra e em memória das dores da  Paixão de Cristo.

45) Porque existe a obrigação do dízimo?
Os padres não recebem salários, mas se dedicam em tempo integral às almas. Vivem atentos a todas as necessidades espirituais, e muitas vezes, às necessidades materiais dos seus fiéis. Nada mais justo que as famílias prevejam a subsistência do seu padre.

46) Como se paga o dízimo em nossas Capelas?
Cada família costuma deixar no início do mês uma quantia para este fim. Ela varia de acordo com as possibilidades de cada. Mas todos devem estar atentos para não faltar, de modo a cumprir esta grave obrigação que a Igreja nos impõe, em nome da Caridade e que não deixa de reverter-se para o bem dos próprios fiéis.

DERRADEIROS ANOS DE FREI GALVÃO

DERRADEIROS ANOS

OS SEUS DONS
Além das suas virtudes heróicas aqui apresentadas, Frei Galvão foi agraciado com outros dons: dos milagres, bi-locação (assistência em dois lugares ao mesmo tempo), da penetração dos corações, da profecia e outros. Muito embora, seja possível existir uma autêntica santidade numa pessoa, sem ela possuir qualquer dom extraordinário, todavia, DEUS concede-os às almas de grande virtude, não para utilidade delas, mas do próximo. Frei Galvão fazia parte desta escolha Divina, porque sua grande preocupação era a salvação das almas.
Um fato marcante testemunha esta realidade. Quando em Itu visitando o tenente Fernando Pais de Barros e sua esposa, senhora Maria Jorge, aceitou o convite para pernoitar em sua casa. Na hora de dormir o casal o conduziu a um quarto especialmente preparado para ele. Parando diante da porta, disse Frei Galvão: “Este quarto não me serve”. Disseram-lhe que justamente para ele fora preparado. “Mas neste não quero passar a noite, replicou, quero dormir ali” , e apontou o quarto de casal. Não houve meio senão de lhe fazer a vontade. Na manhã seguinte encontraram a cama intacta! Mas, desde aquele dia cessaram todas as desavenças que até aquela data eram constantes na vida do casal.
Eram comuns as monções, nos séculos XVIII e XIX, canoeiros profissionais que subiam ou desciam o Rio Tietê, entre as Capitanias de São Paulo e Mato Grosso. Manuel Portes era um prestigioso mestre, graças à ordem que sabia manter entre as tripulações e a escrupulosa fidelidade na entrega de dinheiro e mercadorias, entre Porto Feliz e Cuiabá. Seus subordinados o temiam, pois não vacilava em castigar o faltoso do modo mais rude. Um de seus homens, talvez de nome Apolinário, caboclo indolente e pouco afeito a disciplina, vinha lhe causando aborrecimentos. Já o repreendera varias vezes, o homem se humilhava, mas não se emendava. Naquele dia abicado as canoas à barranca do Tietê e desembarcadas as equipagens para o jantar, pusera-se Manuel Portes a fazer a costumeira revista e ronda diária. E aí encontrou novamente o danado caboclo em falta. O sangue lhe ferveu e o levou a pegar um açoite e castigar vigorosamente o remeiro, que não se defendeu.
Pouco depois estava Manuel Portes conversando com um de seus homens, quando Apolinário com um grande facão, cravou-o em suas costas e fugiu correndo. A terrível punhalada lançou-o ao solo, sangrando abundantemente.
No auge do desespero, homem cristão e temente a DEUS começou a gritar: “Meu DEUS, eu morro sem confissão! VIRGEM MÃE DE DEUS, perdão! Perdão SENHOR! Senhor Santo Antonio, interceda por mim! Dá um confessor! Venha, Frei Galvão, vem me assistir”!
As pessoas vieram socorrê-lo, mas ele estava estirado por terra, moribundo, numa poça de sangue, já com a voz sumida, pedindo a presença de um padre. De repente, viram um franciscano que chegava ligeiro, se abaixou e abraçou o agonizante, colocando a cabeça dele no seu colo. Fez um gesto com a mão para afastar os espectadores e conversou com ele em voz baixa, ouvindo a sua confissão. Assim ficou algum tempo e depois, abençoou o expirante. Levantou-se, fez um gesto de despedida com a mão e afastou-se do mesmo modo misterioso que tinha chegado. Na hora do milagre, Frei Galvão estava fazendo uma pregação em São Paulo. Interrompeu a oratória, ajoelhou-se e pediu a todos que rezassem uma Ave Maria pela salvação de um moribundo em lugar muito distante. Acabada a oração, levantou-se e continuou a prédica.
No porto de Portunduva Manuel Portes foi sepultado, e seus homens, em homenagem, na cabeceira de seu túmulo ergueram uma grande e tosca cruz de madeira, onde muitos anos depois edificaram uma Capelinha em honra a Frei Galvão. O local fica a 2 quilômetros da sede da Fazenda e a 3 quilômetros da cidade de Jaú, no Estado de São Paulo, e denomina-se Fazenda Santa Cruz, pertencente aos irmãos Dilermando e Edward Vasconcelos Romão.
O Crucifixo era a imagem que estava sempre ao alcance da mão do Santo. No Convento da Luz há diversos que ele próprio colocou, na enfermaria, no coro, Igreja e outros locais. Se desejasse presentear alguém, Frei Galvão não pensava duas vezes, era o crucifixo o melhor presente que com prazer ele oferecia. A este respeito, narra-se um fato muito interessante:
“Certa manhã, passou um médico, pelo Recolhimento da Luz, a fim de visitar Frei Galvão. Terminada a visita, o Santo ofereceu ao amigo um belo crucifixo, dizendo-lhe que era para que encaminhassem melhor os seus negócios espirituais e temporais. O médico agradeceu o presente, mas fez uma solicitação ao Santo, pedindo-lhe que guardasse o precioso crucifixo até que ele regressasse das visitas que ia fazer a alguns doentes.
Cumprido o dever profissional, o médico seguiu para casa se esquecendo de voltar ao Recolhimento para pegar o seu presente. Todavia, ao penetrar no seu consultório, cuja chave trazia consigo, com grande e comovedora surpresa viu sobre a sua mesa de trabalho, o crucifixo de Frei Galvão”.
Também recebeu o dom da levitação, que é o fenômeno místico que mantêm o corpo elevado do solo, sem qualquer apoio. No Mosteiro da Luz tem um manuscrito que narra o seguinte: “Uma velhinha, certo dia, andando pela rua, observou que Frei Galvão vinha se aproximando; reparou que andava sem pisar no chão, pelo que muito admirada lhe disse: Ué Senhor Padre, vosmecê anda sem pisar o chão? O nosso Santo sorriu e continuou o caminho sem nada dizer”.
Existem muitos outros casos interessantes e admiráveis, que descrevem o precioso dom  bi-locação e outros dons, que Frei Galvão possuía, dos quais, muitos estão narrados no livro: “A VIDA DO SANTO FREI ANTONIO DE SANT’ ANNA GALVÃO, escrito por Maristela (pseudônimo da Madre Beatriz, religiosa da Ordem das Concepcionista, Mosteiro de Portaceli, Ponta Grossa, Estado do Paraná), é um livro que contém um precioso trabalho de pesquisa feito pela Irmã.
A VIRTUDE DA CARIDADE
Sua grande preocupação era o Amor de DEUS. Amar a DEUS com todas as forças e por todos os meios era o objetivo maior da existência do Santo.
Nos estatutos que escreveu para as Irmãs no Convento da Luz, observa-se objetivamente esta sua intenção: de elevá-las a um grau sublime de amor Divino e para isto, lhes indicava o caminho: abster-se o quanto possível das coisas do mundo, renúncia completa de si mesma, austeridade da mortificação e pobreza. Esta é a razão de tantas grades, tão estreitas clausuras e tão rigoroso silêncio. Sob a influência de seu grande espírito, belíssima floração de santidade desabrochou entre as Irmãs.
A caridade que Frei Galvão tinha pelo próximo era tão grande como a imensidão do azul celeste que se descortina diante dos nossos olhos. Todos buscavam sua Virtude na certeza de que seriam recompensados. Amparava os pobres e os socorria em suas necessidades. Aos escravos mostrava compassiva benignidade. Era um consolo para as pessoas tristes e desoladas.
“Certa vez na Vila de Itu, aonde frequentemente ia, uma senhora aflita lhe pediu que rezasse por seu filho, um moço jovem, mas de gênio irascível e de péssimo procedimento, que costumava se ausentar dias da casa. Frei Galvão consolou a pobre mãe e lhe disse que confiasse em DEUS, pois seu filho voltaria logo, completamente transformado. Pediu-lhe, porém, que nada dissesse ao rapaz sobre o assunto daquela conversação. Poucos dias depois, regressou o filho pródigo, radicalmente outro, completamente diferente: no falar e no proceder, e deste dia em diante, ele foi à alegria de sua mãe”.
COMO SURGIU A PÍLULA
A imensa caridade do Santo pelo próximo fez nascer à famosa “pílula de Frei Galvão”.
Certo dia, algumas pessoas vieram recomendar às suas orações para um rapaz que sofria terrivelmente de violentas dores provenientes de cálculo renal. Compadecido, apressou-se a rezar por ele, quando lhe ocorreu uma súbita inspiração: lembrou-se da VIRGEM e NOSSA SENHORA, e de seu impressionante, eficaz e poderoso poder intercessor junto a DEUS, para todas as causas. Então, recortou um pequeno papel branco e fino, e nele escreveu estas palavras: “Post partum, VIRGO, inviolata permansisti: DEI GENITRIX intercede pro nobis”, (latim) que significa: “Depois do parto, ó VIRGEM, permaneceste intacta: MÃE DE DEUS intercede por nós”.
Enrolou o papel na forma de minúsculo canudo e mandou que o dessem ao rapaz para engolir com um pouco de água. O moço, apenas ingeriu aquela pílula e expeliu grande calculo, ficando imediatamente curado. As noticias circularam ligeiras.
Tempos depois, o nosso Santo foi procurado pela manhã no Mosteiro da Luz, por um homem muito aflito. O diálogo aconteceu assim:
- Senhor Padre, minha mulher está para ser mãe.
(Respondeu Frei Galvão) – Parabéns, o Céu te manda mais um Anjo.
- Ai de mim, senhor Padre, ela está passando tão mal que temo pela sua vida!
- Oh! Pobre filho! Já vou rezar por ela!
- DEUS lhe pague senhor Padre. Mas agradeceria se o senhor me desse também um remédio para ela tomar.
Frei Galvão deve ter sorrido diante da simplicidade daquele homem. Mas que remédio ele poderia dar a semelhante caso? Lembrou-se então, do papelzinho da VIRGEM transformado em pílula. Fez outro igual e deu ao homem que foi voando para casa. Na tarde daquele mesmo dia, muito alegre, o homem voltou ao Mosteiro da Luz dar a notícia ao Padre, dizendo que o Anjinho tinha chegado deixando todos felizes, e que mãe e filho estavam em ótimas condições de saúde.
Estes fatos se propalaram com grande rapidez, e assim, os pedidos dos papelinhos eram muito frequentes, mesmo durante a vida do Santo.
PARTIDA PARA O EXÍLIO
Frei Galvão passou mais de setenta anos com uma santa e laboriosa existência. O Convento da Luz estava bem organizado espiritualmente e materialmente a construção estava quase terminada. Alquebrado pelos anos e austeridade, já estava na hora de buscar um descanso e esperar tranquilamente pelo dia feliz de sua alma voar desta, para uma vida melhor.
No entanto, quis NOSSO SENHOR aumentar os seus muitos méritos, oferecendo-lhe a ocasião de realizar mais uma obra para sua glória.
Em 12 de Agosto de 1811 ele recebeu do Bispado um requerimento da Irmã Manuela de Santa Clara, pedindo ao Bispo Dom Mateus de Abreu Pereira, duas ou três religiosas do Convento da Luz, para com elas e outras moças, começarem um Recolhimento na cidade de Sorocaba. No requerimento que já estava com o despacho favorável do senhor Bispo, o prelado deixava à vontade e escolha de Frei Galvão e da Madre Regente do Mosteiro da Luz, enviar as três Irmãs para Sorocaba. E o despacho do senhor Bispo, ainda dizia: “... parece-me muito profícuo ao serviço de DEUS, que o Reverendo Padre Definidor Frei Galvão, podendo e querendo as acompanhe, dê os fundamentos e direções ao novo Recolhimento; concedo-lhe toda e plena autoridade de Capelão, para por si e por outro fazer quanto for necessário, e gozar naquele Recolhimento de todas as faculdades de que goza no Recolhimento da Luz”.
Vendo nestas palavras a vontade dos superiores, o nosso Santo prontamente se dispôs a obedecer, não olhando as dificuldades, o seu cansaço e o peso dos anos. Escolheu as Irmãs Domiciana Maria da Assunção e suas sobrinhas: Rita do Coração de Jesus e Isabel da Visitação, elegendo esta última para Regente do novo Recolhimento. No dia 19 de Agosto já estavam a caminho de Sorocaba.
Após a sua chegada, já possuindo grande prática administrativa, em poucos dias, ou seja, no dia 25 de Agosto de 1811, o Recolhimento Santa Clara já estava totalmente instalado.
Frei Galvão ficou em Sorocaba na direção do Recolhimento onze meses e depois retornou a São Paulo com as Irmãs Domiciana e Rita, ficando em Sorocaba sua sobrinha Irmã Isabel da Visitação, como Madre Regente do Recolhimento Santa Clara.
Depois desta fundação, Frei Galvão não saiu mais de São Paulo, andava muito cansado, esgotado fisicamente e as enfermidades começaram a visitá-lo com frequência. Tão enfraquecido estava que não conseguia fazer o percurso do Convento de São Francisco, onde residia, até o Mosteiro da Luz, no Campo do Guaré, passando pela “descida da figueira de São Bento”, hoje Rua Florêncio de Abreu.
Em atenção ao seu estado físico debilitado, os superiores lhe concederam a licença de residir no Recolhimento da Luz, continuando assim, a cuidar daquela casa que construiu com tanto empenho e amor. O nosso Santo escolheu para seu aposento o mais estreito e humilde cantinho. Seu leito era feito de taipa, alguns palmos acima do chão, no fundo da Igreja, por traz do altar-mor onde estava o sacrário. Maravilhoso local para se descansar, bem ao lado de JESUS Sacramentado!
E longe de pensar que seus dias eram monótonos, tristes e sombrios. Continuava a ser procurado intensamente pelas pessoas e atendia a todos, com a mesma disposição, dando atenção, conforto e conselho aos que necessitavam.
Presume-se que tenha passado os três últimos anos de sua vida acamado, ou pelo menos, quase sempre deitado na cama. Era servido pelos escravos da casa e as Irmãs, carinhosamente cuidavam da sua alimentação e dos medicamentos para aliviar os seus males.
Interessante fato aconteceu nos seus últimos anos de vida. A senhora Maria Antonia de Jesus das Chagas Silva, que era mãe de uma das religiosas do Convento, veio procurá-lo trazendo uma menina de nove anos a quem recomendara: “que se comportasse bem, porque Frei Galvão era Santo e adivinhava quando as crianças não eram boas”. Enquanto a mãe conversava com o Santo, a pequena meio assustada, não despregava os olhos dele. Frei Galvão observando, afetuosamente lhe perguntou: “E você, minha menina, o que vai ser quando for moça”? Ao que ela respondeu: “Quero ser Freira neste Convento”. Colocando a sagrada mão sobre a cabecinha da criança, o venerando fundador em tom profético, falou: “Sim, filhinha, serás religiosa deste Convento”.
Passados dez anos, Frei Galvão já tinha falecido, a menina de outrora contando dezenove anos de idade, entrou no Convento da Luz, onde recebeu o nome de Sóror Maria do Sacramento. Ali passou uma vida muito santa e perfeita, sendo a consolação e alegria de suas Irmãs pelo bom gênio e agradável temperamento.
Chegando o mês de Dezembro do ano 1822, o estado de saúde de nosso Santo declinava a cada dia mais e mais, o desenlace se fazia pressentir. E realmente aconteceu, às 10 horas da manhã do dia 23 de Dezembro de 1822, havendo recebido todos os sacramentos, expirou Frei Antonio de Sant’ Ana Galvão silenciosamente no SENHOR, com 84 anos de idade incompletos.
O luto e a saudade invadiram São Paulo. Grande multidão de pessoas acorreu à Igreja do Convento da Luz, querendo ver e honrar aquele Santo amigo, prestando-lhe uma última homenagem. O corpo foi colocado em sepultura aberta no centro da Igreja do Convento, em frente ao altar-mor. Pouco tempo depois colocaram uma lápide com o seguinte epitáfio: “Aqui jaz Frei Antonio de Sant’ Anna Galvão, ínclito fundador e reitor desta casa religiosa, que, tendo sua alma sempre em suas mãos, placidamente faleceu no SENHOR no dia 23 de Dezembro do ano de 1822”.
BEATIFICAÇÃO E CANONIZAÇÃO
Em 1990 a Irmã Célia Candorin começou a trabalhar em benefício da causa de Frei Galvão, e logo no ano seguinte foi nomeada secretária da causa. Tendo sido o nosso Santo “Beatificado” em 1998, a Irmã Célia foi nomeada postuladora, quer dizer, encarregada e responsável por toda a causa. No cumprimento desta tão honrosa quanto custosa missão, a postuladora desenvolveu um trabalho infatigável e ininterrupto, com pesquisas e visitas a arquivos paroquiais, cópias de documentos e levantamento de informações pelo Brasil, e com frequentes viagens a Roma, para montar o processo canônico, conforme exigido pelo Vaticano.
O estudo do processo em Roma decorreu de 1993 a 2007, oportunidade em que também foram estudados os dois milagres escolhidos, exigidos pela Igreja, e analisados por uma comissão de especialistas em medicina.
A celebração da “Canonização” deveria ser feita em Roma, mas a pedido da Igreja e do povo brasileiro, o Papa Bento XVI paternalmente e com boa vontade se dignou vir celebrá-la na cidade de São Paulo, no dia 11 de Maio de 2007.
MILAGRE PARA A BEATIFICAÇÃO
Trata-se da cura de uma criança de 4 anos, Daniella Cristina da Silva, residente na Vila Brasilândia, Rua Padre José Materni, 598, em São Paulo (capital), SP.
Ela, filha de Valdecir da Silva e Jacira Francisco da Silva, desde o nascimento em 9 de Março de 1986, era uma criança miudinha e de saúde delicada.
Em Maio de 1990 foi internada com complicações bronco-pulmonares e tratada com antibióticos. Apresentando melhora, voltou para casa. Mas, logo a seguir, apresentou sonolência e crises convulsivas, sendo na noite de 24 de Maio de 1990, internada no Hospital Emílio Ribas, em São Paulo, com suspeita de meningite ou hepatite. Com um quadro gravíssimo da doença, foi levada para a UTI, com diagnóstico de “insuficiência hepática fulminante”, ainda sofreu parada cardiorrespiratória.
Daniella esteve treze dias na UTI, passando depois para a Seção de Pediatria onde permaneceu até o dia 21 de Junho de 1990, quando recebeu a alta hospitalar “considerada totalmente curada”.
A intervenção Divina foi pedida pelos pais, parentes, amigos e religiosas do Mosteiro da Luz, que unidos numa única prece, desde o dia 25 de Maio, suplicaram com muita fé a intercessão de Frei Galvão para ele conseguir de DEUS a graça da cura de Daniella.
No evento da “Beatificação” de Frei Antonio de Sant’ Anna Galvão, em 1998, Daniella com 12 anos de idade, era uma menina saudável e alegre. Esteve presente à celebração em Roma.
MILAGRE PARA A CANONIZAÇÃO
Trata-se do caso da senhora Sandra Grossi de Almeida e de seu filho Enzo de Almeida Gallafassi, da cidade de São Paulo, hoje residentes em Brasília, DF.
Em 1993 e 1994, a senhora Sandra sofreu três abortos espontâneos devido ao seu útero bicorne. Com tal deformação era impossível levar a termo qualquer gravidez, pois o feto não tinha espaço suficiente para crescimento e pela própria natureza, forçava o aborto.
Estava nesta situação, quando em Maio de 1999 ficou grávida novamente. Em Agosto, a ginecologista Doutora Vera Lúcia Delascio Lopes, fez uma cerclagem cervical, pois a gravidez era considerada de altíssimo risco. Sandra sabia que, no momento do parto, poderia ter uma hemorragia e morrer.
Apesar do prognóstico médico, a gestação evoluiu normalmente, com repouso absoluto de Junho a Novembro. Foi decidido "parto cesário" no dia 11 de Dezembro de 1999. Não houve qualquer complicação, a criança nasceu pesando quase dois quilos (1,995 Kg) e medindo quarenta e dois (42) centímetros, mas apresentou problemas respiratórios com uma doença das membranas hialinas. Foi entubada, porém teve um quadro de boa evolução muito rápida, sendo extubada no dia 12, dia seguinte, à tarde. Recebeu alta hospitalar no dia 19 de Dezembro de 1999, completamente com saúde. O menino foi batizado com o nome de Enzo.
O êxito favorável deste caso raro foi atribuído à intercessão do Beato Frei Antonio de Sant’ Anna Galvão, que foi invocado pela família, com muita devoção desde o início e durante toda a gravidez, com muitas orações e súplicas, especialmente por Sandra, que além das contínuas novenas, também tomou as “pílulas de Frei Galvão”, com fé e imensa convicção.
No exame do processo canônico, os peritos médicos na sessão do dia 18 de Janeiro de 2006, aprovaram o fato por unanimidade, declarando ser “cientificamente inexplicável no seu conjunto, segundo os atuais conhecimentos científicos”.
Sua Santidade, o Papa Bento XVI, depois de reconhecer o fato, autorizou no dia 12 de Dezembro de 2006, a Congregação das Causas dos Santos a promulgar o decreto, a respeito do milagre atribuído à intercessão do Beato Frei Antonio de Sant’ Anna Galvão.

SANTO FREI ANTONIO DE SANT' ANNA GALVÃO (SUA OBRA E SUA CARIDADE)

A DUPLA ORFANDADE
Ainda atravessando a fase mais difícil de sua existência, a obra do Recolhimento da Luz sofreu um forte impacto emocional, com a prematura morte da sua co-fundadora Madre Helena Maria. Realmente foi um fato muito triste que Frei Galvão relatou assim: “Um ano e vinte dias esteve à fundadora na nova casa, e foi DEUS que, servido por seus altos juízos a levou para SI, querendo que ela somente se dispusesse do seu Divino beneplácito para tão grande obra, para logo depois lhe dar o prêmio dos seus trabalhos e virtudes, tirando-a deste vale de misérias para o eterno descanso. Faleceu no dia 23 de Fevereiro de 1775 e está sepultada na Capela-mor da mesma Igreja. Dizem que ela tem feito muitos prodígios, e eu sou testemunha de vários, porém, especialmente de um com notável admiração”.
Logo após a morte da Madre, o senhor Bispo mandou que se nomeassem três Irmãs, cada uma para as funções: Regente, Porteira e Mestra das Noviças, o que se realizou no dia 3 de Março, Festa das Sagradas Chagas de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO. E assim, a Comunidade seguiu os seus trabalhos, orações e compromissos de cada dia.
A segunda orfandade aconteceu em Junho de 1775, no mesmo ano da morte da Madre Helena, pois nesta época terminou o governo do estimado Dom Luis Antonio de Souza. No dia 14 tomou posse o novo Governador Martim Lopes Lobo de Saldanha. O novo Governador cheio de vaidade e querendo mostrar serviço, entrou por um caminho odioso, abrindo um mesquinho e calunioso processo contra o seu antecessor enviando uma “mentirosa denúncia” ao Vice-Rei Marquês do Lavradio, que residia no Rio de Janeiro, acusando Dom Luis de desvios e desmandos, favorecendo de modo espantoso e ilegal as obras do Recolhimento da Luz. E logo a seguir, com apenas quinze (15) dias no governo, exatamente no dia 29 de Junho, Festa de São Pedro e São Paulo, expediu ordem para o senhor Bispo fechar o pequeno Mosteiro. A perplexidade dos religiosos foi geral e intensa, acompanhada de um abominável sofrimento interior e terrível angústia, vendo desmoronar impiedosamente um ideal sagrado. O senhor Bispo chamou Frei Galvão e lhe transmitiu a ordem. Aquele era um dia festivo em honra dos Apóstolos do SENHOR, dia de Santa Missa e Comunhão. As Irmãs e o povo esperavam na Igreja vendo as horas se escoarem rapidamente e Frei Galvão não aparecia para a celebração. Ele chegou bastante atrasado e muito sério. Iniciou imediatamente a Santa Missa, distribuiu a Sagrada Comunhão e consumiu as partículas que sobraram. Mandou apagar a lâmpada vermelha do Santíssimo e avisou ao povo que não adorassem o SENHOR no Sacrário, porque JESUS não estava lá. A seguir mandou as Irmãs para o refeitório e depois do jantar, se reuniu com elas na Portaria, e então, deu a triste notícia de fechamento do Mosteiro. As Irmãs mal puderam rezar, não só pelo susto, como afogadas em caudalosas lágrimas. Nosso Santo deu-lhes a notícia, de que o Senhor Bispo ordenou que elas avisassem aos seus pais para virem buscá-las e levá-las para casa, pois dentro de um mês as portas do Convento serão fechadas.
Foi um momento crítico e cruel de tanta tristeza, quando o punhal da dor rasgou dramaticamente todos os sentimentos e aqueles puros corações. Frei Galvão procurou consolá-las, e depois, silenciosamente se retirou. Não falou com ninguém e nem se queixou de nada. Nem a Irmã que narrou o acontecimento e nem os escritos antigos do Convento descrevem qualquer tipo de reação do Frei Galvão. Apenas está registrado que a ordem de fechamento veio do senhor Bispo, provavelmente porque julgava difícil manter o Recolhimento, que não tinha nenhum patrimônio ou renda, e nem a aprovação do Governador. E desta forma, como terceira orfandade, o Recolhimento também ficou órfão de seu pai, o grande Frei Galvão.
O ex-governador Dom Luis, que ainda se encontrava em São Paulo, soube e acompanhou todos aqueles tristes acontecimentos, mas não tinha autoridade para interferir e nada podia fazer. Triste e desapontado com o procedimento do novo Governador, deixou a cidade e retornou a Portugal, sem se despedir dele.
FELIZ REENCONTRO
Todavia, aquele Recolhimento não poderia acabar assim melancolicamente, daquele modo tão grosseiro e desastroso. Afinal, era uma obra solicitada por JESUS, como poderia ser abandonada? Assim também pensaram as Irmãzinhas que haviam convivido com a falecida co-fundadora Irmã Helena, e resolveram, heroicamente, permanecerem no Convento, tendo-se afastado apenas três companheiras. Exteriormente o Convento permaneceu hermeticamente fechado, elas obedeceram rigorosamente à ordem, mas interiormente a Providência Divina velava e agia. DEUS que sempre manifestou o seu ardente e profundo Amor a aqueles que O servem com constância, sustentou as Irmãs com Sua Graça, inclusive, dispensando-lhes alguns preciosos milagres. Passavam fome e sede, sem dúvida, mas eram sempre socorridas pelo SENHOR. E estas pesadas dificuldades permaneceram durante um longo mês.
Um exemplo da ajuda Divina. Estava o tempo muito seco por vários dias e por isso, faltou água. Como a época era extremamente seca e penosa para as Irmãs, decidiram implorar a clemência do SENHOR, reunindo-se no coro da Capela e rezando fervorosamente. Era um dia claro, sem nuvens e com o céu completamente azul. Imediatamente surgiram nuvens que cobriu toda a região, começou a trovejar e despencou um aguaceiro, suficiente para encher todas as talhas, depósitos e demais vasilhas que havia na casa, e logo a seguir, a chuva cessou e as nuvens foram dissipadas.
E como este, muitos outros acontecimentos importantes, que luminosamente mostravam o carinho e a proteção Divina, principalmente durante aquele um mês e poucos dias. Este foi o tempo suficiente para que o vagaroso Correio pedestre trouxesse do Rio de Janeiro a resposta do Vice-Rei, Marquês do Lavradio ao relatório que lhe foi enviado pelo novo Governador da Capitania de São Paulo, Senhor Martim Lopes Lobo de Saldanha.
Grande foi a decepção para o novo Governador do Estado, orgulhoso pelo seu “grande feito” (de ter mandado fechar o Convento)! Longe de concordar com suas intrigas o Vice-Rei repudiou aquele gesto rude e cruel do Governador contra pobres e indefesas Irmãs, censurando-o categoricamente, mandando que fosse reaberto o Convento.
O senhor Bispo foi chamado pelo novo Governador do Estado que o autorizou a reabrir o Convento. Imediatamente o prelado convocou Frei Galvão, que como é natural, ficou muito feliz com o desfecho do acontecido, mas na verdade, ele não ignorava que um grupo de Irmãs tinha ficado no Mosteiro, cumprindo, sobretudo, um corajoso desejo de manter vivo o ideal da Comunidade, e, sobretudo, de atender ao pedido de JESUS. Apressadamente rumou para lá, e ansioso bateu na porta que permanecia trancada. As Irmãzinhas ficaram assustadas, estavam com medo de abrir, podia ser alguma outra notícia ruim! Mas logo o temor se transformou em surpresa e alegria, ao ouvir a voz do servo de DEUS, chamando: “Irmã Conceição, Irmã Gertrudes, Irmã Teresa, estão ai? É Frei Galvão, não tenham medo”! Elas correram do modo que lhes permitiam a fraqueza física, e abrindo a porta exclamaram: “Senhor Padre”! E chorando, prostraram-se de joelhos diante dele.
A partir de então, empolgados com os acontecimentos e abrasados pelo Amor de DEUS, empreenderam a construção do imponente e humilde Mosteiro da Luz, dedicado a IMACULADA CONCEIÇÃO DE MARIA. Esta obra testemunha a genialidade e a invejável fibra do Frade Menor: ele foi o idealizador, o desenhista, planejador, arquiteto, administrador zeloso, pedreiro, carpinteiro e servente, que, sobretudo, saía a pé pregando pelas cidades vizinhas e arrecadando fundos, pedras, madeiras, todas as espécies de materiais e escravos para a construção. Foram quase cinquenta (50) anos de trabalho intenso e dedicado.
AS DIFICULDADES DO CONVENTO
A Lei Pombal aumentou as dificuldades, porque ela impedia a construção e abertura de novos Conventos e Mosteiros, e condenava a morte aqueles existentes. E assim, também por esta razão, o Governo do Estado, apesar do “puxão de orelha” dado pelo Vice-Rei, procurava colocar obstáculos às obras do Mosteiro, não concordando com as obras de ampliação ou do novo Mosteiro da Luz.
Então foi necessária uma união de esforços, buscando não ferir o interesse e a ordem da Coroa Portuguesa. E assim, com muito jeito, foram conseguindo a necessária autorização, apresentando argumentos que contornavam a dificuldade. Então disseram: era um Recolhimento de mulheres desejosas de solidão, para se aprofundarem na oração e na penitência, sem o compromisso de fazerem os Votos Perpétuos. Estes argumentos eram apresentados para as autoridades do Governo, mostrando deste modo, que o Recolhimento da Luz não estava desrespeitando a Lei do Marquês de Pombal.
Mas evidentemente, aqui cabe esclarecer, que a Ordem Religiosa fundada por Frei Galvão, somente era fictícia no papel, para satisfazer as autoridades do Governo, porque na realidade, desde o inicio, como vimos acima, as Irmãs cumpriam uma rigorosa e austera disciplina, dedicando-se intensamente ao trabalho e as orações. Quanto à modalidade de vida, ou seja, a espiritualidade escolhida foi a Regra da Ordem Concepcionista, fundada em 1484, em Toledo, na Espanha, pela portuguesa Santa Beatriz da Silva. Hoje, a Ordem Religiosa está juridicamente associada à Primeira Ordem de São Francisco, com presença marcante no Brasil e no mundo.
Por outro lado, enquanto Frei Galvão empenhava a sua alma naquela luta, ele via recrudescer a perseguição à Igreja, com o fechamento de Conventos e vendo em agonia a sua própria Província Franciscana da Conceição. Mas heroicamente continuava lutando para manter o seu Mosteiro, ensejando as Irmãs a cumprirem a missão que o SENHOR havia determinado, e para a sua própria alegria pessoal pela concretização do ideal projetado.
Na construção do prédio, por um natural senso pedagógico, Frei Galvão não quis mais do que entre vinte (20) a trinta (30) religiosas ocupando o prédio. Por isso, construiu o necessário para esta utilização, com esta capacidade, e não mais. Todavia, ao longo dos anos, com o aumento das vocações, posteriormente foi edificada a ala Prates, construída pelo Conde Eduardo Prates, grande devoto de Frei Galvão e notável benfeitor do Mosteiro da Luz.
AS IRMÃS
Frei Galvão tomou a Bíblia como fonte de inspiração para formar e instruir as Irmãs, ele mesmo, que praticava como poucos a Regra de São Francisco de Assis, que estimula, sobretudo, os franciscanos a viverem, se amando e se servindo mutuamente como irmãos, numa verdadeira fraternidade eminentemente pobre, servidora, obediente, na alegria da Paz do SENHOR. Assim, Frei Galvão atuava como autêntico mestre daquele ideal de vida religiosa sonhado pelas Irmãs.
Os frutos nos revelam a pureza e a força da árvore. A história do Mosteiro da Luz está aberta para quem quiser conferir. Basta lembrar que os contemporâneos o apelidaram de “viveiro de Santas”, em face da quantidade notável de espíritos dedicados, fieis e verdadeiramente santos que se formaram e habitaram aquela casa.
Depois da morte de Frei Galvão, a Providência Divina atuou e o Mosteiro galhardamente foi atravessando os anos, prestando benefícios incontáveis a Comunidade Cristã. O sucessor escolhido pelo Bispo foi o capelão Frei Lucas José da Purificação, franciscano trabalhador e minuciosamente responsável em todas as obrigações e serviços na Comunidade Religiosa.
Cento e cinquenta e cinco (155) anos mais tarde, a esclarecida e virtuosíssima Madre Oliva Maria de Jesus, apoiada pelo senhor Arcebispo Dom Duarte Leopoldo e Silva agilizou providências e conseguiu incorporar o Convento à Ordem Concepcionista. Deste modo elevou-o de simples Recolhimento a Mosteiro Pontifício, com votos solenes e observância da Regra própria da Ordem, a que anteriormente pertenciam por “devoção e determinação” do Bispo Dom Manuel da Ressurreição.
A CONSTRUÇÃO DO NOVO MOSTEIRO  (O MOSTEIRO DA LUZ)
Frei Galvão realizou a obra com dois objetivos: provendo-a de higiene e solidez. Quanto ao primeiro, considerando a vida enclausurada das Irmãs, desejava que elas vivessem enclausuradas sim, mas oprimidas não. Quis proporcionar-lhes o necessário espaço, com ar e luz. E quanto à solidez, desejou fazer uma construção definitiva a fim de não deixar preocupações para o futuro, como por exemplo: obras de acabamento, a fim de não incomodar as religiosas na clausura.
Como não tinha renda e nem doações vultosas para as obras, Frei Galvão e as Irmãs recebiam as esmolas e a boa vontade dos cristãos. Por essa razão, ele teve que sair, visitando cidades, pregando em Igrejas, visitando casas de pessoas de posse, pregando o evangelho, ensinando a Lei do Amor Divino, conseguindo recursos financeiros, materiais e doações preciosas para a sua obra.
Por vezes, era tão numeroso o auditório, que sendo pequeno o recinto da Igreja, pregava ao ar livre, como aconteceu em São Luiz do Paraitinga.
Com quatorze anos de intenso trabalho, uma parte do prédio se mostrava em condições de alojar as recolhidas, passando do velho conventinho para a nova casa no dia 25 de Março de 1788, Festa da Anunciação de NOSSA SENHORA.
Muito longe, porém, estava o final da obra que durou nada menos do que 48 anos, pois quando Frei Galvão morreu em 1822, faltava terminar a torre.
REGULAMENTO E ORGANIZAÇÃO
Estando as Irmãs alojadas com maior comodidade, o seu Santo fundador deu-lhes os primeiros estatutos ou regulamentos para a vida religiosa, por ele mesmo elaborado. Em linguagem simples e concisa, traçou-lhes diretivas de grande sabedoria e prudência, e nelas revela o seu espírito altamente psicológico: com energia, firmeza, sábia e caridosa condescendência com a fragilidade humana, conseguiu assegurar a vitalidade espiritual de seu Convento.
Estes estatutos foram aprovados por Dom Mateus de Abreu Pereira, e observados até 1880. Em 1865, o Bispo Dom Antonio Joaquim de Melo, acrescentou algumas novas determinações, exigidas pelas condições da Comunidade.
A Comunidade foi sempre numerosa e florescente, apesar de todas as dificuldades e vicissitudes que passou. Finalmente em 1929, com o apoio do Arcebispo Dom Duarte Leopoldo e Silva intercedendo junto a Santa Sé, conseguiu Madre Oliva Maria de Jesus, a incorporação do Convento à Ordem Concepcionista, completando deste modo a obra de Frei Galvão e a idéia do Bispo Dom Manuel da Ressurreição.
O Mosteiro da Luz foi registrado e tombado pelo Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, no dia 16 de Agosto de 1943. Em consequência, ficou sob a fiscalização do mencionado departamento, de modo que sua integridade se acha perpetuamente assegurada.
PRISIONEIRO DA CARIDADE
Dos três primeiros ofícios que Frei Galvão recebeu logo após a conclusão de seus estudos: de Pregador, Confessor e Porteiro, por volta de 1776 teve que deixar o de Porteiro, porque não podia permanecer parado na Portaria, era uma condição incompatível com a realização de todos os outros importantes trabalhos, porque ele viajava com frequência e, sobretudo, estava sempre orientando e ajudando na construção do Recolhimento.
Isto, além de ser o Diretor do Recolhimento da Luz, e também ser Comissário da Ordem Terceira em São Paulo, onde realizou um notável trabalho. Outro honroso ofício que Frei Galvão recebeu de seus superiores, foi o de Visitador, delegado pelo Ministro Provincial, que era um encargo difícil e delicado, o que testemunha o elevado índice de consideração e confiança que gozava em sua Ordem.
Em 1780 o novo Governador de São Paulo Martim Lopes, exorbitando a sua autoridade, condenou a morte de forca o soldado Caetano José da Costa, vulgo Caetaninho, pelo “crime” de ter ferido levemente o seu filho, esbofeteando-o, estando os dois, o filho e Caetaninho totalmente embriagados. Foi uma discussão vulgar e briga de bêbados. Embora havendo grande resistência da Câmara Municipal, do Bispo Dom Frei Manuel da Ressurreição, de particulares e eclesiásticos, inclusive do próprio Frei Galvão, apesar de todos os protestos, o Governador não cedeu, e o pobre Caetaninho foi executado.
No tempo colonial também era comum aplicar a pena de degredo. Uma pessoa criticada, ou que tivesse aprontado algo, ou que caísse na antipatia das autoridades, ou fosse condenada por alguma infração, era degredada, isto é, era mandada para outro lugar, outro Estado ou cidade.
Isto aconteceu com Frei Galvão, sua culpa foi ter tomado o partido dos fracos, no caso presente, ter manifestado a favor do Caetaninho. O Governador que já não simpatizava com ele, quis descarregar no religioso sua raiva, como se Frei Galvão fosse o culpado pelo desapontamento e revolta da cidade inteira contra o gesto arbitrário e covarde da autoridade maior da Capitania. E a sentença do Governador contra Frei Galvão foi fulminante: deixar São Paulo em 24 horas.
Recebendo a ordem do Governador, obediente e honesto, imediatamente começou a fazer os preparativos para viajar. A ordem é injusta e covarde , dizem-lhe os monges beneditinos. Ele responde: Sou franciscano e vou obedecendo. E as Irmãs? Irá abandoná-las? Deixará a obra de DEUS incompleta? Com a fisionomia triste e séria, ele continuava movimentando os seus preparativos para a viagem. Nada era capaz de detê-lo.
Obediência cega! Seu espírito estava nas mãos de DEUS e embora com o coração sangrando, iniciou a caminhada para o seu desterro. Provavelmente estivesse pensando: "Se o SENHOR está permitindo, é porque ELE conhece as razões e sabe o que é melhor".
Já havia alcançado o Bairro do Braz quando interiormente sentiu que devia escrever algumas linhas as Irmãs. Entrou numa casa, pediu papel e tinta e escreveu:
“Madre Regente e todas as Irmãs do Recolhimento da Conceição:
Ao SENHOR DEUS em quem só devemos esperar. Tenham paciência, filhas, agora é a ocasião de Vossas Caridades terem sofrimento. Tenham animo pelo amor de DEUS. Tenham paciência pelo amor de DEUS. Vivam unidas. Vivam unidas. Vivam unidas. Guardem a glória de NOSSO SENHOR vivendo na sua providência esperando somente NELE. Filhas vivam unidas, vivam unidas”...
(O bilhete tem diversas outras frases de despedida)
Pediu ao dono da casa que mandasse um escravo de confiança, levar o bilhete ao Convento da Luz.
Nesse meio tempo, a notícia de seu desterro se propagou velozmente pela cidade e, todos se estremeceram com aquela novidade assustadora. Diziam: “Vamos perder o nosso Santo”?
Em pouco tempo, homens embuçados, seguidos de robustos escravos armados cercaram a residência do Governador. Formou-se logo uma multidão exigindo que ele revogasse a sentença do desterro de Frei Galvão. Já era noite e exposto a aquele povo ameaçador, não teve outro remédio senão capitular. Com grande má vontade revogou a perversa sentença: “Que o Frade fique na cidade”!
Rapidamente foram atrás do Santo e o trouxeram de volta. A notícia se espalhou e encontrou as Irmãs chorando e rezando diante do Sacrário, suplicando a misericórdia de DEUS. Elas já tinham recebido a carta que Frei Galvão lhes escrevera. Agora, com o coração cheio de alegria, permaneceram rezando, agradecendo a NOSSO SENHOR.
No mesmo ano, por ordem da Rainha de Portugal, D. Maria I, o Governador Martim Lopes foi exonerado e veio outro Governador para administrar a Capitania de São Paulo.
Neste mesmo ano de 1781, surgiu novo perigo que ameaçou a Capitania de São Paulo de perder o seu Santo Frei Galvão. Ele foi nomeado pelos seus superiores Vigário e Mestre dos Noviços do Convento de Macacu, perto do Rio de Janeiro, aonde ele mesmo, fizera o seu Noviciado. Mas o Bispo da Capitania de São Paulo, Dom Frei Manuel da Ressurreição, não deixou, usando de todas as suas prerrogativas, conforme a lei eclesiástica.
Como se vê, não somente o povo apreciava Frei Galvão, mas também as autoridades religiosas e civis. Sem dúvida, parece que estava nos desígnios de DEUS a permanência de seu Servo em São Paulo, onde sua presença era muito mais útil do que em Macacu.
O fato de não ter podido cumprir a ordem de ir para Macacu, não impediu, todavia, que seus superiores reconhecendo as suas reais virtudes lhe concedessem em 1796 o privilégio de uma Presidência e Guardiania, ou seja, ser Superior de um Convento. E isto aconteceu de fato dois anos depois, em 1798, quando foi eleito Guardião do Convento de São Francisco em São Paulo, onde residia.
Agora, quem ficou assustada foram as Irmãs do Convento da Luz, pois entenderam que pelas obrigações do novo cargo, Frei Galvão já não poderia atendê-las mais, e então, seria substituído por outro sacerdote na Direção do Recolhimento. Isto elas não queriam. Por isso, ficaram desorientadas, pensando em dificuldades de todas as espécies, considerando que ele não era só o Superior do Mosteiro da Luz, mas também o Mestre e o Ecônomo, afastando as Irmãs de toda a comunicação com o exterior. Por outro lado, sendo ele Superior dos Franciscanos teria que viajar para o Rio de Janeiro e participar do Capítulo da Ordem, permanecendo lá, muitos meses. E elas, as Irmãs, iam ficar sozinhas?
Então, as Irmãs aproveitando as boas graças que gozavam junto a Câmara Municipal e com o novo Bispo da Capitania Dom Mateus de Abreu Pereira, que substituiu Frei Manuel da Ressurreição, suplicou-lhes que enviassem carta ao Provincial dos Franciscanos para não tirar Frei Galvão da Direção do Mosteiro da Luz.
O Bispo e a Câmara atenderam as Irmãs e enviaram preciosas missivas ao Provincial Franciscano. Duas cartas que evidenciavam todo o valor, a dignidade e admirável capacidade administrativa do Santo, mostrando o quanto ele era útil as Irmãs e a própria obra do Recolhimento.
Se a dificuldade residia na permanência de Frei Galvão em São Paulo e na Direção do Convento da Luz, a tudo concordou o Ministro Provincial Franciscano Frei Joaquim de Jesus e Maria, sem, contudo exonerá-lo da Guardiania, ou seja, dele ser também o Superior do Convento Franciscano em São Paulo. Assim, ficaram todos contentes, e o nosso Santo com mais um cargo, sobrecarregado de dificuldades e responsabilidades. Ficou superior de dois Conventos, um de Frades e outro de Freiras. Era uma missão extremamente penosa, porque além de lhe consumir integralmente os seus dias, provavelmente não sobrariam horas para realizar todo o trabalho nos dois Conventos.
Aproximando-se o Capítulo Provincial no dia 28 de Setembro de 1799, Frei Galvão seguiu, na qualidade de capitular, para o Rio de Janeiro, donde voltou exonerado do ofício de Guardião (porque realmente não era possível ser Diretor de dois Conventos, além dos seus inúmeros afazeres). Foi substituído por Frei Miguel de Jesus Maria Carneiro. Outra vez em 28 de Março de 1801 teve os votos para Guardião e novamente teve que viajar até o Rio de Janeiro para votar no Capítulo de 2 de Outubro de 1802. Pelas mesmas razões foi exonerado.
Em todas as viagens, sempre fazia a pé, celebrando a Santa Missa e pregando nas cidades e vilas por onde passava, a pedido dos respectivos párocos locais. E como é lógico, tinha de passar por Guaratinguetá, sua terra natal, que está bem ao lado da estrada que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. E com que entusiasmo e amizade os seus familiares, parentes e amigos e o povo em geral o recebiam! E isto, a humildade dele o deixava “sem jeito” e pouco tranquilo, por isso resolveu fugir deles, ultimamente passava por Guaratinguetá, mas não entrava na cidade. Quando sabiam que ele estava pela redondeza e o procuravam, não o encontravam mais, porque Frei Galvão já estava longe. Assim, fugia das honras e glórias do mundo, considerando-as como nada, totalmente supérfluas.
O Santo ainda exerceu outros cargos importantes na sua Congregação, além dos dois períodos mencionados de Guardiania: foi eleito Definidor, isto é, Conselheiro do Ministro Provincial em 9 de Abril de 1802. Em 10 de Outubro de 1804 o encontramos no Convento Santa Clara, em Taubaté, como Visitador Delegado pelo Provincial, e no dia 29 do mesmo mês, em Itu, cumprindo igual ofício no Convento de São Luis de Tolosa. Em 1807, foi constituído Visitador Geral e Presidente do Capítulo, porém não lhe foi possível desempenhar este cargo, já estava com 69 para 70 anos de idade. Dizem os documentos que renunciou a este ofício por motivo de falta de saúde.

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SANTO INÁCIO

SANTO INÁCIO
martírio célebre no século II foi o de Santo Inácio de Antioquia; no ano 107, no Coliseu de Roma, vítima da perseguição de Trajano (98-117), por ocasião dos gigantescos espetáculos dados por este imperador para comemorar suas vitórias sobre os dácios. Inácio foi condenado juntamente com Rufo e Zózimo.

Cardeal Majella

"Cristo foi batizado, não para ser santificado pelas águas, mas para santificá-las"

ORE SEM CESSAR

Ore sem cessar!!!

Viva a Nossa Senhora Aparecida.













No dia 12 de outubro, comemoram-se três datas, embora poucos lembrem-se de
todas elas: Nossa Senhora Aparecida, padroeira oficial do Brasil, o Dia das Crianças e o Descobrimento da América. Nosso feriado nacional, no entanto, deve-se somente à primeira data, e, embora a devoção à santa remonte aos idos do século XVIII, só foi decretado em 1980.
Há duas fontes sobre o achado da imagem, que se encontram no Arquivo da Cúria Metropolitana de Aparecida e no Arquivo Romano da Companhia de Jesus, em Roma.
Segundo estas fontes, em 1717 os pescadores Domingos Martins García, João Alves e Filipe Pedroso pescavam no rio Paraíba, na época chamado de rio Itaguaçu. Ou melhor, tentavam pescar, pois toda vez que jogavam a rede, ela voltava vazia, até que lhes trouxe a imagem de uma santa, sem a cabeça. Jogando a rede uma vez mais, um pouco abaixo do ponto onde haviam pescado a santa, pescaram, desta vez, a cabeça que faltava à imagem e as redes, até então vazias, passaram a voltar ao barco repletas de peixes. Esse é considerado o primeiro milagre da santa. Eles limparam a imagem apanhada no rio e notaram que se tratava da imagem de Nossa Senhora da Conceição, de cor escura.
Durante os próximos 15 anos, a imagem permaneceu com a família de Felipe
Pedroso, um dos pescadores, e passou a ser alvo das orações de toda a comunidade. A devoção cresceu à medida que a fama dos milagres realizados pela santa se espalhava. A família construiu um oratório, que, logo constatou-se, era pequeno para abrigar os fiéis que chegavam em número cada vez maior. Em meados de 1734, o vigário de Guaratinguetá mandou construir uma capela no alto do Morro dos Coqueiros para abrigar a imagem da santa e receber seus fiéis. A imagem passou a ser chamada de Aparecida e deu origem à cidade de mesmo nome.

Em 1834 iniciou-se a construção da igreja que hoje é conhecida como Basílica Velha. Em 06 de novembro de 1888, a princesa Isabel visitou pela segunda vez a basílica e deixou para a santa uma coroa de ouro cravejada de diamantes e rubis, juntamente com o manto azul. Em 8 de setembro de 1904 foi realizada a solene coroação da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida e, em 1930, o papa Pio XI decreta-a padroeira do Brasil, declaração esta reafirmada, em 1931, pelo presidente Getúlio Vargas.
A construção da atual Basílica iniciou-se em 1946, com projeto assinado pelo
Engenheiro Benedito Calixto de Jesus. A inauguração aconteceu em 1967, por oca
sião da comemoração do 250.º Aniversário do encontro milagroso da imagem,
ainda com o templo inacabado. O Papa Paulo VI ofertou à santa uma rosa de ouro, símbolo de amor e confiança pelas inúmeras bênçãos e graças por ela concedidas. A partir de 1950 já se pensava na construção de um novo templo mariano devido ao crescente número de romarias. O majestoso templo foi consagrado pelo Papa, após mais de vinte e cinco anos de construção, no dia 4 de julho de 1980, na primeira visita de João Paulo II ao Brasil.

A data comemorativa à Nossa Senhora Aparecida (aniversário do aparecimento
da imagem no Rio) foi fixada pela Santa Sé em 1954, como sendo 12 de outubro, embora as informações sobre tal data sejam controversas. É nesta época do ano que a Basílica registra a presença de uma multidão incontável de fiéis, embora eles marquem presença notável durante todo ano.

A imagem encontrada e até hoje reverenciada é de terracota e mede 40 cm de
altura. A cor original foi certamente afetada pelo tempo em que a imagem esteve mergulhada na água do rio, bem como pela fumaça das velas e dos candeeiros que durante tantos anos foram os símbolos da devoção dos fiéis à santa. Em 1978, após o atentado que a reduziu a quase 200 pedaços, ela foi reconstituída pela artista plástica Maria Helena Chartuni, na época, restauradora do Museu de Arte de São Paulo. Peritos afirmam que ela foi moldada com argila da região, pelo monge beneditino Frei Agostinho de Jesus, embora esta autoria seja de difícil comprovação.

Seja qual for a autoria da imagem ou a história de sua origem, a esta altura ela pouco importa, pois as graças alcançadas por seu intermédio têm trazido esperança e alento a um sem número de pessoas. Se quiser saber mais detalhes sobre a Basílica e sua programação, visite o site www.santuarionacional.com.br, no qual também é possível acender uma vela virtual. E já que a fé, assim como a internet, não conhece fronteiras, eu já acendi a minha, por um mais paz e igualdade no mundo. Acenda a sua e que
Nossa Senhora Aparecida nos ouça e ilumine o mundo, que está precisando tanto de cuidados.

Além da farta pescaria, muitos outros milagres são atribuídos à Nossa Senhora Aparecida. Veja alguns abaixo:
A libertação do escravo Zacarias
O escravo Zacarias havia fugido de uma fazenda no Paraná e acabou sendo
capturado no Vale do Paraíba. Foi caçado e capturado por um famoso capitão
do mato e, ao ser levado de volta, preso por correntes nos pulsos e nos pés,
e como passassem perto da capela da Santa, pediu permissão para rezar diante
da imagem. Rezou com tanta devoção que as correntes milagrosamente se
romperam, deixando-o livre. Diante do ocorrido, seu senhor acabou por
libertá-lo.

O cavaleiro ateu
Um cavaleiro que passava por Aparecida, vendo a fé dos romeiros, zombou
deles e tentou entrar na igreja a cavalo para destruir a imagem da santa. Na
tentativa, as patas do cavalo ficaram presas na escadaria da igreja. Até
hoje pode-se ver a marca de uma das ferraduras em uma pedra, na sala dos
milagres da Basílica Nova.

A cura da menina cega
Uma menina cega, ao aproximar-se, com a mãe, da Basílica, olhou em direção a
ela e, de repente, exclamou "Mãe, como aquela igreja é bonita." Estava
enxergando, perfeitamente curada.

NILTON

O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Romanos 6:23


TERESA DE CEPEDA Y AHUMADA

TERESA DE CEPEDA Y AHUMADA
Teresa de Cepeda y de Ahumada (nasceu em Ávila em 1515) guiada por Deus por meio de colóquios místicos e por seu colaborador e conselheiro espiritual são João da Cruz (reformador da parte masculina da ordem carmelita, empreendeu aos quarenta anos uma missão que tem algo de incrível para uma mulher de saúde delicada como a sua: do mosteiro de são José, fora dos muros de Ávila, primeiro convento do Carmelo por ela reformado, partiu, carregada pelos tesouros do seu Castelo Interior, para todas as direções da Espanha.